Com objetivo de apresentar informações para auxiliar as famílias de pessoas portadoras do Transtorno do Espectro Autista (TEA) e profissionais que atuam na área, a Câmara Municipal de Três Lagoas promoveu palestras, na noite de quarta-feira (28), por propositura da vereadora Sayuri Baez e apoio da Associação dos Amigos dos Autistas (AMA), representada pela presidente Nadir Vilalva e pela vice-presidente, Neide.
A vereadora Sayuri recepcionou a todos, destacando a importância do conhecimento para superar as dificuldades nas abordagens que proporcionam melhor qualidade de vida aos autistas. “Nós buscamos qualidade de vida e nos preocupamos porque pouco se fala no assunto, porque ainda há muito preconceito. Este evento tem como objetivo trazer auxílios para as famílias que sofrem diante de um diagnóstico”, afirmou Sayuri.
Os vereadores Issam Fares, Evalda Reis e Paulo Veron também participaram do evento e foi citado que vários projetos de lei estão em tramitação ou já foram aprovados na Câmara com o intuito de atender famílias e garantir direitos às pessoas que estão no espectro. Também foi divulgada a liberação de duas emendas parlamentares de R$ 50 mil cada, para a AMA.
Evalda Reis falou sobre a conquista paulatina de políticas públicas para atendimento aos autistas, ressaltando a importância do papel do Legislativo e do Executivo. Mesmo sem estarem presentes, os vereadores Davis Martinelli, Marisa Rocha, Sirlene Pereira e Jorginho do Gás enviaram mensagem informando que estavam em atividades externas, justamente buscando conhecer políticas aplicadas no setor.
A psicóloga Emily Parmezan, especialista em avaliação de transtornos do neurodesenvolvimento, parabenizou a iniciativa da Câmara, lembrando que é necessário dar visibilidade à causa. O foco da palestra dela foi explicar a abordagem ABA, a análise comportamental aplicada, que é a principal forma de auxílio tido como eficiente para evolução em caso de TEA e outros transtornos, atualmente. Segundo ela, a abordagem visa entender o que acontece antes e após os comportamentos e ainda aplicar técnicas multidisciplinares para promover mudanças comportamentais, dentro da necessidade de cada pessoa, de forma a buscar a conquista de vivência em sociedade.
Outras questões trazidas por Emily é de que a escola pode aplicar ABA de forma mais coletiva, porém, sempre entendendo as diferenças de cada indivíduo e que a família pode manter os reforçadores de comportamento em casa, como forma de manter um tratamento contínuo.
Também psicóloga, Natália Pereira, pós-graduada em neuropsicologia e avaliação psicológica, abordou a questão do diagnóstico e também afirmou que quanto mais o assunto for discutido pela sociedade, mais será possível promover evoluções comportamentais para os portadores. Neste ponto, disse que quanto mais precoce o diagnóstico, maiores a chances de resultados, casos os atendimentos sejam aplicados ainda na primeira infância.
Dificuldades de comunicação (verbal e não verbal), de interação social e de comportamento são os três grandes fatores analisados para traçar um diagnóstico, explicou Natália. Segundo ela, os diagnósticos não são feitos por exames, mas são apenas clínicos, feitos por diversos profissionais. No entanto, destacou que o pediatra pode detectar os primeiros sinais. “O diagnóstico vai dar um nome e dizer os tipos de abordagens necessárias. Mas, não espere a crianças ter três, quatro anos para começar. Se ela tem alguma dificuldade, já busque apoio profissional para aquela dificuldade, o quanto antes, porque os primeiros anos são imprescindíveis , é neste momento que se aciona o desenvolvimento da criança”, explicou.
A profissional também enumerou quatro principais passos que a família pode dar, após a confirmação do diagnóstico: 1- buscar todas as informações que for possível, para conhecer a situação que vai enfrentar, na maior plenitude possível; 2- buscar rede de apoio entre famílias que têm autistas; 3- buscar acompanhamento de profissionais multidisciplinar que atuam na área; 4- praticar autocuidados para os membros da família.
A arquiteta Sandra Latta, do Conselho Municipal dos Direitos da Pessoa com Deficiência, também usou a palavra e colocou a instituição a serviço das famílias para buscarem soluções.
Pesquisador do tema há mais de dez anos, Oswaldo Freire também fez palestra, centralizando sua fala na necessidade de tratar as pessoas com TEA com respeito e amor, lembrando que sua condição não vai ser eliminada, mas pode ser alterada com as abordagens disponíveis.
Ele disse que pesquisou o assunto no país inteiro, Austrália, países árabes, Argentina, México, Estados Unidos, Canadá e França. “O autista precisa de carinho e amor. Nada faz ele abrir o coração e mente dele sem amor. Ele comanda a chave e, com amor, irá sensibilizar e conquistar o autista para abrir, para que ele tenha autonomia, felicidade e bem-estar.”
Quanto à sociedade, ele disse que é preciso entender que as abordagens não vão criar um novo cidadão, a pessoa sempre estará no espectro. “Este cidadão tem como evoluir, tem condições de participar da sociedade, como um contribuinte dela. Não é coitado”, defendeu. Também recomendou que as informações cheguem aos bairros mais afastados, de forma de todos entendam como tratar o assunto. “Quanto mais conhecimento, menos preconceito”, pregou.
A palestra, que teve o tema “Quando a gente se conscientiza, as peças se encaixam”, também contou com a fala da presidente da AMA, associação que reúne cerca de 300 famílias, em Três Lagoas. Nadir Vilalva descreveu dificuldades que a entidade enfrenta, porém destacou que o trabalho em equipe e a rede de apoio de fortalece com todos envolvidos.
A vereadora Sayuri relatou que é autora de nove PL para benefícios da causa e o vereador Issam Fares Júnior também prestou informações sobre direitos que estão sendo defendidos, por meio de PL em tramitação.
Para que as famílias pudessem assistir às palestras, foi criado um espaço com cuidadores para que as crianças ficassem e fossem assistidas de forma lúdica.