Kemelly Garcia, que ostentava carros e viagens, promovia cassinos em pirâmide. MPMS e PF apuram empresas por golpes.
Thais Dias
O Ministério Público de Mato Grosso do Sul (MPMS) instaurou um inquérito civil para investigar as empresas Cash Pay Meios de Pagamento Ltda. e Orion Tecnologia da Informação e Soluções Digitais Ltda., suspeitas de administrar plataformas de apostas online que operam em um esquema de pirâmide financeira, causando prejuízos a consumidores. A investigação, conduzida pela 25ª Promotoria de Justiça do Consumidor de Campo Grande, teve início após denúncias envolvendo a influenciadora digital Kemelly Garcia de Souza, que promovia os aplicativos em suas redes sociais.
Com cerca de 700 mil seguidores no Instagram, Kemelly Garcia, que se autointitula “digital má influencer”, chamou atenção por exibir uma vida de alto padrão – incluindo viagens internacionais, carros de luxo e consumo extravagante – sem nunca ter declarado emprego formal ou renda comprovada. Em suas postagens, ela divulgava links e códigos de indicação para pelo menos 27 plataformas de apostas, como GPRBET, WINGDAS, EITABET, FRUTABET, HOJEBET e outras, todas vinculadas às empresas investigadas.
Um relatório da Polícia Federal (PF) detalha que essas plataformas operavam em um sistema hierárquico de indicações, caracterizando um esquema de pirâmide: os primeiros participantes lucravam com os depósitos de novos usuários, enquanto a maioria, em níveis mais baixos, acabava perdendo dinheiro. A própria Kemelly admitiu, em algumas publicações, que as apostas poderiam gerar perdas financeiras, mas continuou promovendo os sites.
As empresas Cash Pay e Orion Tecnologia são apontadas como as únicas beneficiárias das transações. Segundo a PF, além de estarem por trás do esquema de pirâmide, elas acumulam reclamações por impedir que usuários sacassem seus valores. Os sócios da Cash Pay, Sun Chunyang e Xizhangpeng Hao, já foram convocados a depor em uma CPI sobre manipulação de resultados no futebol.
Influenciadora aceitou acordo, mas não cumpriu
Kemelly Garcia foi investigada por crime contra a economia popular e assinou um Termo Circunstanciado de Ocorrência (TCO). Em audiência com o MPMS, ela aceitou uma transação penal, comprometendo-se a:
Pagar 3 salários mínimos (parceláveis em até 6 vezes);
Divulgar o projeto “A Voz das Vítimas” em seu Instagram (3 posts por semana por 2 meses); ou
Realizar 60 horas de serviços comunitários (4 horas semanais).
O acordo foi homologado pela Justiça, mas a influenciadora não cumpriu integralmente – fez apenas o pagamento e algumas postagens iniciais. Diante do descumprimento, o MPMS pediu a revogação do benefício, e o juiz intimou sua defesa para apresentar justificativas. Até agora, não houve manifestação.
MPMS amplia investigação
Além do inquérito contra as empresas, o MPMS determinou a juntação de documentos de uma Ação Civil Pública movida em São Paulo pela ADEJA (Associação em Defesa dos Jogos e Apostas) e de uma Nota Técnica da Senacon (Secretaria Nacional do Consumidor). A promotoria terá apoio de uma equipe técnica e jurídica, com autonomia para realizar diligências sem necessidade de autorização judicial prévia.
O caso reforça os riscos das apostas online e de esquemas piramidais, que têm levado milhares de brasileiros a perdas financeiras. Enquanto a investigação avança, consumidores são alertados a evitar plataformas não regulamentadas e a desconfiar de promessas de ganhos fáceis.