Após condenação por estupro, afastamento de professor é prorrogado e gera protesto na UFMS

Estudantes ocupam campus para exigir demissão imediata de docente condenado a 8 anos de prisão; universidade afirma que processo disciplinar segue trâmite legal

 

Um protesto realizado na manhã desta quarta-feira (20) no campus da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) reacendeu a revolta em torno de um caso de violência sexual que choca a comunidade acadêmica há nove anos. A prorrogação do afastamento de um professor condenado por estupro de uma aluna levou estudantes às ruas para exigir a demissão imediata do docente, que continua recebendo salário mesmo após a sentença criminal.

O crime ocorreu em 2016, durante uma festa universitária. A vítima, então uma estudante de Ciências Biológicas de 22 anos, foi seguida pelo professor até um quarto, onde ele trancou a porta. De acordo com as investigações, o docente se aproveitou da vulnerabilidade da jovem. Amigas da estudante, desconfiadas, conseguiram forçar a entrada do cômodo e a encontraram nua, desorientada e chorando.

Nove anos depois, a Justiça condenou o professor em primeira instância a oito anos de prisão em regime semiaberto e ao pagamento de R$ 30 mil em indenização à vítima. Apesar da decisão judicial, o servidor permanece vinculado à UFMS. Nesta semana, a reitora Camila Ítavo assinou uma portaria prorrogando por mais 60 dias o seu afastamento preventivo — medida que serviu como estopim para a nova onda de indignação.

“A gente não vai ficar em silêncio, não iremos ficar quietos aceitando isso. Não temos medo de exigir nossos direitos”, declarou a estudante Rebeca Garcia, 22, durante o ato. Ela criticou a falta de comunicação da universidade sobre os canais de denúncia: “A UFMS fala que tem que denunciar na ouvidoria, mas isso não chega aos estudantes. O maior problema é não divulgar corretamente onde pode ser feita a denúncia”.

Os corredores da universidade ecoaram com gritos de protesto: “UFMS, vê se escuta: quem estupra não educa”, “demissão é pra já, estuprador não merece lecionar” e “se tem abuso, tem resistência. Estudantes contra a violência”.

A mobilização partiu do Centro Acadêmico de Biologia. Alisson Benites, 35 anos, estudante de Ciências Sociais e integrante do diretório, destacou a gravidade da situação: “No meio disso tudo, ainda houve a promoção do professor condenado. Isso é inaceitável. A lei precisa ser cumprida. Quando a Justiça condena um servidor por um crime tão grave, a UFMS deve agir de acordo com a moralidade administrativa. A pena é a demissão”.

Rebeca Garcia reforçou a solidariedade à vítima: “Eu não a conheço, não sei o nome dela. Mas sei que ela é uma filha, pode ser namorada, esposa… Acima de tudo, ela é uma pessoa.”

Posicionamento da UFMS

Em nota, a universidade informou que a reitora Camila Ítavo revisou o ato administrativo de 2016 que havia definido pela não apuração dos fatos na época e determinou o afastamento preventivo do professor. Foi constituída uma Comissão de Processo Administrativo Disciplinar (PAD) para apurar a responsabilidade do servidor, sob supervisão da Corregedoria e da Advocacia Geral da União.

A instituição afirmou que “o servidor segue integralmente afastado, aguardando a conclusão do processo administrativo disciplinar, que segue o trâmite jurídico adequado. Não existe meio de acelerar ou influenciar o seu andamento”. A UFMS também destacou que tais informações foram compartilhadas em reunião com o Diretório Central dos Estudantes e com a comunidade do Instituto de Biociências.

Enquanto o processo administrativo não chega ao fim, a tensão permanece, e a cobrança por justiça e por uma postura mais firme da instituição segue ecoando entre os estudantes.

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Edição 257