Após autorização para ferrovia, Arauco estuda hidrovia para escoar celulose de MS

Empresa chilena avalia alternativa logística que combina rodovia, hidrovia e ferrovia para transportar 3,5 mi de toneladas anuais até o Porto de Santos

 

A chilena Arauco, que já possui autorização para construir um ramal ferroviário de 47 quilômetros em Mato Grosso do Sul, agora estuda uma rota alternativa para escoar a produção de sua nova fábrica em Inocência (MS). A empresa analisa a viabilidade de usar a hidrovia dos rios Paraná-Tietê como peça central de um corredor logístico multimodal, deixando em segundo plano o projeto original de ferrovia dedicada.

O plano inicial da empresa, que integra o megaprojeto de US$ 2,5 bilhões (cerca de R$ 25 bilhões) da fábrica, previa um investimento adicional de R$ 2,4 bilhões. Desse total, R$ 1 bilhão seria para a construção do ramal ferroviário e outros R$ 1,4 bilhão na compra de 23 locomotivas e aproximadamente 750 vagões para formar sete trens de 100 vagões cada, com capacidade para despachar 9,6 mil toneladas de celulose por dia.

A nova alternativa em estudo propõe uma combinação de modais. A celulose seria transportada por caminhões de Inocência até Três Lagoas (MS), em uma distância de aproximadamente 130 km, com uma circulação média de 200 carretas por dia. De Três Lagoas, a carga seguiria pela hidrovia Paraná-Tietê até Pederneiras (SP), percorrendo 450 km por via fluvial. O trajeto final, de 550 km, seria feito por ferrovia de Pederneiras até o Porto de Santos.

A viabilidade da operação multimodal depende de uma análise detalhada dos impactos e custos dos múltiplos transbordos de carga. A decisão precisa ser tomada em breve, pois, caso a empresa opte pela construção da ferrovia, as obras precisam começar imediatamente, com um prazo de execução estimado em 18 meses. A previsão é de que a fábrica entre em operação no último trimestre de 2027.

A Arauco já possui a autorização da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) para construir a ferrovia, e a expectativa é que a licença de instalação seja concedida ainda em setembro. O trajeto planejado seria paralelo à rodovia MS-377. Além disso, a empresa acaba de receber da ANTT a qualificação como Agente Transportador Ferroviário (ATF), o que lhe permitiria operar toda a infraestrutura do corredor logístico até Santos.

Em comunicado, a Arauco destacou as vantagens ambientais das alternativas. A empresa afirma que a hidrovia é mais competitiva que o transporte rodoviário e retiraria mensalmente 6 mil caminhões das estradas, reduzindo em 80% as emissões de monóxido de carbono (CO). Já o transporte ferroviário reduz as emissões em 60% comparado ao rodoviário, alinhando-se à estratégia de sustentabilidade da companhia. Alberto Pagano, responsável pelo setor de transportes da Arauco, enfatizou que o plano logístico tem uma visão de longo prazo, considerando futuras expansões da fábrica – cuja licença prevê produção de até 5 milhões de toneladas – e o transporte de outros insumos.

Com a nova fábrica da Arauco, Mato Grosso do Sul consolida-se como o maior polo produtor de celulose do país. O estado vai saltar de uma produção anual de 7,6 milhões de toneladas para 11 milhões de toneladas. O complexo da Arauco se soma à fábrica da Suzano inaugurada em Ribas do Rio Pardo em 2024, aos planos de duplicação da Eldorado em Três Lagoas e ao projeto da Bracell, que promete iniciar a construção de uma unidade em Bataguassu em fevereiro de 2025.

Além do escoamento da celulose, a Arauco também terá de gerenciar uma complexa operação de abastecimento. Cerca de 1,5 mil motoristas operarão 350 caminhões para transportar toras de madeira em 600 viagens diárias até a fábrica, localizada a 50 km da área urbana de Inocência. A empresa possui 400 mil hectares de florestas de eucalipto espalhados em dez municípios do entorno, com uma distância média de corte de 110 km. Para manter a produção a pleno ritmo a partir de 2028, a empresa está plantando 65 mil hectares de eucalipto por ano. Em 2023, a produção brasileira de celulose atingiu 24,3 milhões de toneladas, com exportações de US$ 12,7 bilhões, de acordo com a Indústria Brasileira de Árvores (Ibá).

Compartilhe nas Redes Sociais

Banca Digital

Edição 257