Henrique Budke (PSDB) responde por corrupção passiva, organização criminosa, fraude em licitação e lavagem de dinheiro. Operação Spotless revelou esquema que desviou mais de R$ 16,5 milhões em contratos públicos
O prefeito de Terenos, Henrique Wancura Budke (PSDB), foi denunciado pelo Ministério Público de Mato Grosso do Sul (MPMS) por quatro crimes: corrupção passiva, organização criminosa, fraude em licitação e lavagem de dinheiro. A pena total pode chegar a 260 anos de prisão, uma vez que as condenações seriam somadas em concurso material.
A denúncia, de mais de 600 páginas e assinada pelo procurador-geral de Justiça Romão Ávila Milhan Júnior, detalha um esquema de corrupção generalizado no município localizado a 20 km de Campo Grande. Budke está preso desde o mês passado, quando a Operação Spotless foi deflagrada pelo Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado).
Além do prefeito, outras 25 pessoas foram denunciadas, incluindo empresários, um policial militar e servidores públicos. Entre os nomes estão o secretário municipal de Obras, Isaac Cardoso Bisneto, e o ex-secretário de Desenvolvimento Econômico, Valdecir Batista Alves.
De acordo com as investigações, o grupo criminoso atuava em um sistema de “revezamento entre empresas” para vencer licitações. Das 17 tomadas de preço realizadas entre 2021 e 2023, 94% (16 processos) foram vencidas por empresas ligadas à organização.
O modus operandi incluía a definição prévia do vencedor antes da publicação do edital, troca de documentos entre empresas para simular concorrência e o retorno de parte do valor do contrato como propina ao prefeito.
Em um dos casos específicos, na Tomada de Preços nº 002/2021 para reforma da Escola Rosa Idalina Braga Barboza, Budke teria recebido R$ 60 mil em propina. Apenas em 2023, as investigações apontam que ele embolsou R$ 235 mil em pagamentos ilícitos.
Entre os denunciados está o policial militar Fábio André Hoffmeister Ramires, do Batalhão de Choque. Ele é acusado de participar da fraude na Carta Convite nº 001/2022, para reforma da Escola Isabel de Campos Widal Rodrigues, usando a empresa de sua esposa, a Tercam Construções Ltda.
O enriquecimento ilícito de Budke é evidenciado pelo aumento de 318% em seu patrimônio declarado à Justiça Eleitoral: de R$ 776.210,57 em 2020 para R$ 2.468.418,61 em 2024.
Quando preso, o prefeito tinha em sua posse R$ 11,3 mil em espécie. As investigações também identificaram propriedades subvalorizadas em suas declarações, como a Fazenda Ipê Amarelo e a Chácara Curé.
Os contratos sob análise totalizam mais de R$ 16,5 milhões após aditivos realizados em maio de 2025. O MPMS pede a condenação de todos os réus, o perdimento de bens adquiridos ilicitamente, o pagamento de R$ 10 milhões por danos morais coletivos e a inabilitação de Budke e outros três acusados para o exercício de cargos públicos.
O caso segue sob análise da Justiça, enquanto a defesa dos acusados ainda não se manifestou oficialmente sobre a denúncia.