Justiça amplia denúncia contra músico acusado de feminicídio de jornalista Vanessa Ricarte

Novo aditamento inclui acusações de cárcere privado e violência psicológica, anteriormente afastadas, após análise de relatórios complementares da Polícia Civil. Promotora classifica conduta do réu como “repugnante e torpe”

 

A Justiça de Mato Grosso do Sul decidiu ampliar as acusações contra o músico Caio César Nascimento Pereira, denunciado pelo feminicídio da jornalista Vanessa Ricarte, ocorrido em fevereiro deste ano. A decisão, publicada nesta segunda-feira (6) no Diário da Justiça, torna oficiais os crimes de cárcere privado e violência psicológica no processo, que já contava com a acusação de feminicídio qualificado.

O aditamento à denúncia, protocolado no dia 23 de setembro pela 19ª Promotoria de Justiça, foi baseado em relatórios complementares da Polícia Civil que detalharam o ciclo de violência vivido pela vítima. As novas provas convenceram a Justiça a reincorporar as acusações que haviam sido afastadas pelo juiz Carlos Alberto Garcete de Almeida em março, por entendimento inicial de falta de elementos suficientes naquele momento.

Na decisão de agora, a promotora Lívia Carla Guadanhim Bariani, responsosa pela ação, descreveu a conduta de Caio como “repugnante e torpe” e pleiteou uma indenização mínima de R$ 10 mil para a família de Vanessa.

As investigações conduzidas pelo Gaeco (Grupo de Atuação Especial no Combate ao Crime Organizado) revelaram um cenário de horror doméstico. Entre os dias 23 de janeiro e 12 de fevereiro, Vanessa foi submetida a um regime de controle e vigilância constantes por parte do então noivo.

De acordo com os dados apreendidos, Caio monitorava todos os passos da jornalista, acessando suas contas pessoais e rastreando sua localização em tempo real por meio do iPhone, Apple Watch e iCloud da vítima. Esse comportamento obsessivo é característico do chamado “ciclo da violência doméstica”, que alterna momentos de tensão, agressão e reconciliação aparente.

Mensagens mostram a escalada da violência

O relatório do Gaeco anexado ao processo contém uma série de mensagens trocadas no WhatsApp que ilustram a dinâmica abusiva. Nelas, o músico oscila entre declarações de afeto e cobranças agressivas, exigindo que Vanessa explicasse cada movimento e voltasse imediatamente para casa.

No fatídico 12 de fevereiro, a jornalista, que trabalhava como assessora de imprensa do Ministério Público do Trabalho, retornou à residência do agressor para buscar seus pertences. Foi nessa ocasião que ela foi assassinada com múltiplas facadas no peito.

Investigações apontam que, antes do crime, Vanessa havia sido orientada a registrar uma ocorrência policial, mas não conseguiu a escolta que esperava para retirar seus objetos da casa de Caio com segurança.

Com a nova decisão, o processo segue em andamento, e as acusações de violência psicológica e cárcere privado passam a integrar oficialmente o rol de crimes pelos quais Caio César responderá perante a Justiça.

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Edição 261