Idosa descobre que consta como “morta” no sistema da Polícia Civil ao tentar registrar ameaça de morte em Campo Grande

Maria Inês Benitez Vaz, de 60 anos, ouviu de escrivã: “Não tem como fazer o boletim porque a senhora está em óbito”; caso foi tratado como “interno” e deixou vítima assustada

 

Em uma situação que mistura o absurdo com o desespero, a aposentada Maria Inês Benitez Vaz, de 60 anos, viveu um momento de puro susto ao descobrir que, de acordo com os sistemas da Polícia Civil de Mato Grosso do Sul, ela estaria oficialmente morta. O episódio ocorreu quando ela tentava registrar um boletim de ocorrência após ser ameaçada de morte por um homem armado.

Tudo começou com uma dívida. O filho de Maria, que trabalha consertando eletrônicos, realizou alguns serviços para um cliente que se recusou a pagar. A situação escalou quando o devedor apareceu na casa deles embriagado e armado.

“Meu filho fez uns quatro, cinco trabalhos para um homem e não recebeu. Aí o homem apareceu lá em casa bêbado e armado, dizendo que ia me matar e matar todo mundo”, contou a aposentada. Ela relata que o homem chegou a apontar uma arma para o seu rosto, mas recuou após a intervenção de vizinhos.

No dia seguinte, assustada, Maria foi até uma delegacia registrar a ocorrência. O que deveria ser um procedimento de rotina se transformou em um pesadelo burocrático.

“Cheguei ao meio-dia e saí de lá às quatro. Quando dei meu documento, a escrivã ficou olhando para mim, olhando no sistema e, depois de um tempo, disse: ‘Ah, não dá para fazer o boletim para a senhora’. Eu perguntei por quê. Ela respondeu: ‘A senhora está como morta aqui, está em óbito. Não tem como entrar no sistema’.”

Inconformada, a aposentada se recusou a sair do local sem uma explicação. A situação foi tão surreal que chegou a provocar reações de espanto até mesmo entre os policiais.

“Chamaram o delegado. Ele deu risada e falou: ‘Se a gente não estivesse conversando com a senhora, ia achar que era um fantasma aqui’.” Maria conta que cerca de dez pessoas, entre delegados e escrivães, testemunharam a informação na tela do computador: em todo o estado, ela estava oficialmente “morta” para a polícia.

Suspeita de fraude e busca por respostas

O delegado presente orientou Maria a procurar a DEDFAZ (Delegacia Especializada de Repressão aos Crimes de Defraudações, Falsificações, Falimentares e Fazendários), sugerindo que alguém poderia estar usando seus dados para obter vantagens indevidas.

“Ele me disse que talvez alguém esteja usando meu nome para alguma coisa. Pode ser que tenham feito um seguro de vida ou algo em meu nome. Eu acho que me ‘mataram’ para tirar vantagem”, especula.

Apesar da promessa de que o erro seria corrigido internamente, Maria saiu da delegacia sem nenhum documento que comprovasse a tentativa de registro ou a correção do equívoco. “Eles não quiseram me dar nada, disseram que era interno da delegacia. Eu saí de lá viva, mas até então eu estava morta. Se acontecer qualquer coisa comigo na rua, você entendeu, né?”

O susto da ameaça somado ao choque da burocracia abalou a saúde da idosa, que sofre de pressão alta. “Fiquei dois dias sem comer, com dor de cabeça, mal-estar danado. Quem é que passa por uma situação dessas?”

Ela planeja retornar à delegacia especializada nesta semana para não apenas registrar a ameaça, mas também para investigar quem a “matou” nos sistemas policiais. “Eu vendo cartela do MS e recebo pensão do meu marido, que era policial. Vou atrás do que aconteceu porque isso não é normal”.

Versão Oficial

Questionada sobre o caso, a Sejusp (Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública) emitiu uma nota informando que, após consulta aos sistemas de identificação civil e criminal, Maria Inês Benitez Vaz aparece como viva, com seu último documento de identidade emitido em 2021. De acordo com o órgão, não há qualquer registro de óbito associado ao nome dela nos sistemas da Polícia Civil. A Sejusp, no entanto, não soube explicar o motivo da informação errada passada à aposentada na delegacia, deixando a pergunta no ar: como uma pessoa viva pode ser considerada morta pelas autoridades, mesmo que por um dia?

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Edição 262