PCC usava cargas de salgadinhos de MS para esconder drogas em transporte “seguro” para São Paulo

Operação Blindagem do Gaeco detalha esquema de tráfico interestadual comandado de dentro de presídio; grupo usava caminhão-baú com fachada de entrega de salgadinhos industriais para distribuir maconha e cocaína

 

Um grupo criminoso ligado ao Primeiro Comando da Capital (PCC) utilizava cargas de salgadinhos industrializados, produzidos em Campo Grande (MS), como fachada para transportar maconha e cocaína para o estado de São Paulo. O esquema, batizado de “frete seguro” pela organização, era coordenado de dentro do presídio de Aquidauana pelo traficante Kleyton de Souza Silva.

As investigações do Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público de Mato Grosso do Sul revelaram que o grupo utilizava um caminhão Volvo, ano 2007/2008, tipo baú, que estava em nome do motorista exclusivo Fabrício Aparecido Silva Guilherme – uma estratégia para não levantar suspeitas durante as viagens.

Modus operandi do “frete seguro”

O caminhão fazia viagens regulares para São Paulo carregado com salgadinhos de marca famosa produzidos na capital sul-mato-grossense. O destino incluía a capital paulista e cidades do interior, como São José do Rio Preto e Araçatuba. Nas notas fiscais, constavam apenas cargas lícitas de batatas fritas, salgadinhos de milho e de trigo.

Em conversas apreendidas no celular de Kleyton, o motorista Fabrício detalhava o plano para um dos fretes: “Eu tô vendo aqui se eu consigo. As cargas que têm daqui de Campo Grande pra lá são só pra São Paulo. Aí eu pego uma carga pra São Paulo mesmo, tô vendo uma carga pequena aqui de salgadinho, se o cara vai me passar, aí eu vou e passo em Birigui, pego essas caixas de som e vou direto pra Rio Preto, e lá descarrega”.

Os promotores do Gaeco explicam na denúncia que o “frete seguro” era “arquitetado e executado com a finalidade de conferir aparente legalidade à operação, permitindo que os carregamentos atravessassem as mais diversas barreiras de fiscalização sem levantar suspeitas”.

Os investigadores mapearam pelo menos três fretes agenciados por Kleyton. Em 7 de julho de 2022, houve uma entrega bem-sucedida de aproximadamente 200 quilos de maconha em São José do Rio Preto. Em seguida, o caminhão seguiu para a capital paulista, onde descarregou outros 200 quilos de maconha em um lava-jato na zona norte.

O esquema foi desmantelado quando Fabrício foi preso pela Polícia Militar Rodoviária em 22 de outubro de 2022, em Araçatuba, com 280 quilos de cocaína. A droga tinha como destino Birigui (SP).

Conforme a denúncia, o grupo cobrava R$ 150 por quilo para transporte de maconha e até R$ 700 por quilo para cocaína. Pela carga apreendida em Araçatuba, a quadrilha receberia R$ 196 mil, embora o valor da droga no mercado ilegal fosse estimado em dezenas de milhões de reais.

Operação Blindagem e nova prisão

Na Operação Blindagem, deflagrada em 14 de outubro de 2025, o Ministério Público de Mato Grosso do Sul apresentou novo pedido de prisão contra Kleyton de Souza Silva. Mesmo já preso por condenação anterior, a análise de seu celular apreendido na cela do presídio de Aquidauana revelou que ele continuava comandando a organização criminosa.

As investigações identificaram uma complexa estrutura hierárquica com setores especializados, incluindo:

  • Thiago Gabriel Martins da Silva, o “Especialista PCC”, como um dos mandantes de cobranças violentas

  • Osvaldo Vianna dos Santos Júnior (“Juninho”) e Johan Fabiano Rodrigues Lescano, responsáveis por extorsões e ameaças

  • Monique Siqueira Lopes Meireles e o próprio “Especialista PCC”, que operavam um setor de inteligência para acessar dados sigilosos

A operação descreve uma organização com logística sofisticada, utilizando caminhões com rastreadores, grande volume de entorpecentes e conexões operacionais em diversos estados, atuando também em tráfico de armas e extorsão.

O novo pedido de prisão busca impedir que Kleyton continue exercendo liderança criminosa a partir do sistema prisional, reforçando a custódia preventiva do líder da organização.

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Edição 265