O cronograma das obras de acesso à nova Ponte Bioceânica sobre o Rio Paraguai sofre um revés significativo. Conforme admitido pelas próprias empreiteiras, o trecho rodoviário e a aduana do lado brasileiro, cujos trabalhos começaram em setembro de 2024, só devem ser concluídos em 2028 – dois anos após o prazo original do contrato, que era de 26 meses. A condição para cumprir até essa nova data, porém, depende de uma complementação orçamentária do Governo Federal, especificamente para o item de terraplanagem, já orçado inicialmente em R$ 145,9 milhões.
O contrato para esta parte, atualmente em execução, foi orçado em R$ 101,5 milhões, e os trabalhos devem seguir normalmente até 19 de dezembro, quando as empreiteiras entram em recesso de fim de ano. O atraso contrasta com o avanço da ponte em si, uma estrutura de 1,3 km e 21 m de largura, situada a 35 metros acima do rio. Para o trecho estaiado de 632 metros, faltam apenas 166 metros para conclusão, e a expectativa é que a junção das duas frentes de obra ocorra no fim de abril de 2025.
Licitação com desistência misteriosa e preço final 69% mais alto
O processo que escolheu a construtora para a obra é marcado por irregularidades. A licitação, conduzida pelo DNIT no segundo semestre de 2023, foi vencida pelo consórcio PDC Fronteira, que apresentou uma proposta inicial de R$ 665 milhões – 125,6% superior aos R$ 300 milhões oferecidos pela empresa Entec Empreendimentos, sediada no Maranhão.
Após um alerta do leiloeiro de que os lances estavam “muito acima do estimado pela Administração”, a Entec reduziu sua proposta para R$ 279 milhões, enquanto o consórcio PDC Fronteira baixou a sua para R$ 590 milhões. Em seguida, em uma negociação direta, o leiloeiro questionou a Entec sobre a possibilidade de reduzir ainda mais o valor, o que foi recusado.
Pouco depois, a Entec enviou uma carta misteriosa desistindo da disputa, sem maiores explicações. Com a saída da concorrente com o menor preço, o leiloeiro abriu o sigilo do orçamento estimado pela administração, de R$ 472,4 milhões, e negociou apenas com o consórcio PDC Fronteira. Este acabou fechando o contrato por R$ 472.410.911,22 – cerca de R$ 15 mil abaixo do teto, mas 69,3% acima do valor final proposto pela Entec (R$ 279 milhões).
Tanto a ponte, orçada em cerca de R$ 500 milhões, quanto as vias de acesso, integram a Rota Bioceânica, um corredor rodoviário de 2.400 km que ligará os oceanos Atlântico e Pacífico, passando por Brasil, Paraguai, Argentina e Chile. O projeto é parte de um investimento paraguaio de US$ 1,1 bilhão em um trecho de 580 km entre Carmelo Peralta e Pozo Hondo.
Além do atraso no lado brasileiro, um desafio adicional persiste: a construção de um acesso de aproximadamente cinco quilômetros do lado paraguaio ainda não foi iniciada, acrescentando mais incertezas ao cronograma final de integração deste eixo logístico crucial para o Mercosul.
(*) com informações de Correio do Estado











