Com investimento bilionário, ramal de 47 km em Inocência vai escoar produção por trens até o Porto de Santos, tirando milhares de caminhões das estradas
Dois anos antes da conclusão da sua megafábrica de celulose no município de Inocência, a gigante chilena Arauco deu início, na última semana, às atividades preparatórias para a construção de um ramal ferroviário estratégico de 47 quilômetros. A ferrovia será a via de escoamento das 3,5 milhões de toneladas de celulose que a unidade do Projeto Sucuriú – um investimento de US$ 4,6 bilhões – produzirá anualmente.
Esta será a primeira implantação de uma nova linha férrea em Mato Grosso do Sul em 26 anos, desde 1999. O ramal conectará a fábrica à malha norte da Rumo, cerca de 50 km ao norte do empreendimento, criando um corredor logístico direto até o Porto de Santos (SP), de onde a celulose será exportada.
A operação terá dimensões impressionantes. Diariamente, está prevista a partida de um comboio com 100 vagões, cada um carregando cerca de 96 toneladas de celulose. Além do investimento na via permanente, a Arauco prevê aplicar mais R$ 1,4 bilhão na aquisição de 23 locomotivas e aproximadamente 750 vagões, que formarão sete comboios dedicados à operação.
“Esse investimento reafirma a relevância pública e estratégica do projeto, ao modernizar a logística regional, fortalecer a segurança nas estradas e contribuir para uma operação de menor impacto ambiental”, afirmou Carlos Altimiras, presidente da Arauco Brasil. Segundo ele, a ferrovia eliminará 7 mil viagens de caminhões por mês e reduzirá em 94% as emissões de poluentes, comparado ao transporte rodoviário.
A empresa reuniu todo o arcabouço legal necessário para iniciar as obras. Possui as concessões da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), a autorização para atuar como Agente Transportador Ferroviário (ATF) e a Declaração de Utilidade Pública (DUP) para as cerca de 40 propriedades rurais ao longo do trajeto.
No âmbito ambiental, o projeto já conta com as licenças prévias e de instalação, bem como a Autorização para Supressão Vegetal (ASV). Um Termo de Compromisso de Compensação Ambiental, no valor de R$ 4,3 milhões, foi firmado com o Imasul (Instituto de Meio Ambiente de MS) para ações de recuperação na região ao longo de 24 meses.
Um importante benefício foi o enquadramento no Regime Especial de Incentivos para o Desenvolvimento da Infraestrutura (Reidi), que suspende tributos federais e representa um incentivo fiscal superior a R$ 90 milhões para a empresa. “O empreendimento alcança plena conformidade legal, evidenciando a aprovação institucional necessária para sua execução integral”, destacou Alberto Pagano, diretor de Logística e Suprimentos da Arauco.
O traçado seguirá paralelo às rodovias MS-377 e MS-240, atravessando exclusivamente áreas rurais. O projeto inclui a construção de passagens inferiores e superiores para propriedades e animais, além de uma ponte de 270 metros sobre o córrego São Mateus – solução que reduz a movimentação de terra e o impacto ambiental.
A Arauco mantém negociações com os proprietários das 40 áreas envolvidas. As obras de infraestrutura começam pelos trechos onde os acordos já foram concluídos. A previsão inicial de início das obras era setembro de 2024, mas houve atraso na emissão da licença de instalação. O valor de referência para a construção dos trilhos é de R$ 671 milhões.
Com a fábrica prevista para começar a operar em 2026, a conclusão da ferrovia é peça-chave para que o Projeto Sucuriú, um dos maiores investimentos privados da história do estado, cumpra seu papel de redefinir a dinâmica econômica da região.











