Eldorado Brasil adia bilionária expansão de plantio e fábrica em MS após queda no preço da celulose

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Empresa suspende plano de duplicar produção, que exigiria R$ 15 bi e mais 150 mil hectares de eucalipto; setor enfrenta crise com preços “insustentáveis” e oferta elevada

 

Em um movimento que reflete a turbulência no mercado global de celulose, a Eldorado Brasil suspendeu seu ambicioso projeto de expansão no leste de Mato Grosso do Sul. A empresa, controlada pelos irmãos Joesley e Wesley Batista, anunciou no final de novembro a intenção de ampliar sua área anual de plantio de eucalipto de 25 mil para até 50 mil hectares a partir de 2026, mas recuou da decisão nesta semana.

O adiamento, na prática, coloca na gaveta o projeto de duplicação da capacidade da fábrica em Três Lagoas, anunciado em abril de 2024 com investimentos estimados em R$ 15 bilhões (US$ 3 bilhões). Atualmente, a unidade produz cerca de 1,8 milhão de toneladas de celulose por ano.

Em entrevista ao site especializado AGFeed, o diretor florestal da Eldorado, Germano Vieira, explicou que a empresa possui hoje 305 mil hectares de florestas plantadas, mas utiliza apenas dois terços dessa área para abastecer a fábrica. Isso deixa um excedente de aproximadamente 100 mil hectares de eucalipto, que está sendo comercializado ou permutado com as concorrentes Suzano e Bracell.

“Se decidirmos retomar a expansão, já temos um excedente que poderia abastecer uma segunda unidade no período inicial”, afirmou Vieira, sinalizando que a empresa mantém a estrutura para retomar o plano quando for viável.

Um dos fatores para o recuo, segundo a reportagem, são os ajustes financeiros que a Eldorado precisa fazer após um acordo judicial. Em maio de 2025, os irmãos Batista retomaram o controle total da empresa ao pagar US$ 2,64 bilhões à canadense Paper Excellence, que detinha 49% do negócio.

A expansão demandaria um salto logístico e financeiro significativo. Para duplicar a produção, seriam necessários 450 mil hectares de florestas. Para isso, a empresa teria que arrendar mais 150 mil hectares, com um custo estimado em R$ 180 milhões por ano (considerando R$ 1,2 mil/hectare/ano).

Somente o plantio adicional de 25 mil hectares/ano exigiria investimentos florestais extras de R$ 220 milhões anuais (custo de plantio de R$ 8,7 mil/hectare), sem contar despesas com combate a pragas, incêndios e outros.

No final de novembro, a empresa chegou a informar que já tinha 15 mil hectares arrendados para iniciar a ampliação em 2026, o que demonstra a mudança abrupta de planos.

A decisão ocorre em meio a um cenário de crise no mercado internacional de celulose. Embora a demanda mundial cresça cerca de 1 milhão de toneladas/ano, o aumento da oferta e a queda nos preços forçaram uma revisão de estratégias.

Dados concretos ilustram o problema: as exportações de MS de celulose saltaram 57% nos dez primeiros meses de 2025 (para 5,84 mi de toneladas), mas o faturamento cresceu apenas 25,6% (para US$ 2,665 bilhões). O preço médio por tonelada despencou 20%, caindo de US$ 570 em 2024 para US$ 456 em 2025. Essa queda representou uma perda de receita de aproximadamente US$ 666 milhões (R$ 3,6 bilhões) para as três indústrias do estado no período.

A situação é considerada crítica pela concorrência. No início de novembro, a Suzano emitiu um alerta, classificando os preços internacionais como “completamente insustentáveis”, e anunciou redução de 3,5% em sua produção. Leonardo Grimaldi, diretor da Suzano, afirmou que “o setor está sangrando há meses”.

Apesar do cenário desfavorável, dois megaprojetos no estado seguem a todo vapor, prometendo aumentar ainda mais a oferta global:

  • Arauco (Chile): Investe R$ 25 bilhões em uma fábrica em Inocência, com capacidade para 3,5 milhões de toneladas/ano a partir do final de 2027.

  • Bracell: Planeja iniciar em fevereiro de 2026 as obras de uma unidade em Bataguassu, com investimentos de R$ 16 bilhões e capacidade para 1,8 milhão de toneladas/ano.

A decisão da Eldorado de frear sua expansão, enquanto concorrentes globais avançam com investimentos bilionários no mesmo estado, destaca a complexidade e os riscos do ciclo de commodities, onde decisões de longo prazo são constantemente testadas pela volatilidade do mercado. O setor aguarda agora um reequilíbrio entre oferta e demanda para que novos investimentos, como o da Eldorado, possam sair do papel.

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Edição 269