Golpe do bilhete premiado segue ativo e vitimando principalmente idosos

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Um dos golpes mais antigos do Brasil, registrado desde 1900, segue rendendo prejuízos milionários e traumas profundos. Investigações recentes expõem as novas armadilhas do velho golpe do bilhete premiado, onde criminosos, com discurso ensaiado e boa aparência, convencem vítimas a entregar grandes somas de dinheiro em troca de uma suposta fortuna fácil.

O modus operandi segue um roteiro clássico, executado por ao menos dois golpistas. “Eles escolhem bem a vítima, normalmente próximo de lugares onde tem bancos… e são pessoas muito bem apessoadas”, explica um delegado. O esquema envolve um indivíduo que afirma ser religioso e não poder receber o prêmio, apresentando o bilhete, e um cúmplice que surge para “confirmar” a veracidade, simulando até ligações para instituições falsas.

Câmeras de segurança em São Paulo flagraram os irmãos Luiz Cláudio dos Santos e Paulo Cézar dos Santos aplicando o golpe em um idoso de 88 anos. Após o teatro da ligação para uma falsa gerente da Caixa, convenceram a vítima a entregar R$ 70 mil. “Parece que eles me hipnotizaram. Eu fazia tudo o que eles mandavam”, relatou o aposentado, que recebeu em troca um envelope cheio de papel picado.

Outra vítima, abordada por duas mulheres, acabou fazendo um empréstimo de R$ 100 mil após ser convencida por uma suposta “psicóloga” a entrar na divisão de um prêmio de R$ 13 milhões.

O caso mais emblemático veio de São José dos Campos, onde uma idosa perdeu a astronômica quantia de R$ 3,25 milhões em 14 depósitos ao longo de um mês. Ela esgotou todas as economias de uma vida e ainda contraiu dívidas bancárias antes de perceber a fraude.

Apesar da ampla divulgação, a fraude mantém sua eficácia. Os criminosos são meticulosos na escolha do local (próximo a agências bancárias) e do público-alvo, que costuma ser idoso. Psicólogos explicam que os golpistas “minam a capacidade de resistência” das vítimas, usando persuasão e pressão emocional. O sentimento de vergonha após o prejuízo é apontado como o maior efeito psicológico, inibindo as denúncias e mantendo um número obscuro de casos não reportados.

A Polícia Civil identifica uma família especializada nessa prática, com registros que remontam a 2009. Enquanto os irmãos Luiz Cláudio e Paulo Cézar estão presos, Viviany Araújo Estaninslau, mulher de Paulo, segue foragida com prisão decretada.

Os números oficiais já são alarmantes: apenas em São Paulo, o Departamento de Investigações sobre o Crime Organizado (Deic) registrou 382 casos até dezembro de 2025. Investigadores acreditam que a estatística real seja muito maior, devido à subnotificação.

Orientações para se proteger

Tanto a Caixa Econômica Federal quanto a Febraban emitem alertas:

  • A Caixa NÃO confere bilhetes premiados por telefone ou internet. A verificação só é feita de forma presencial, nas agências ou em lotéricas autorizadas.

  • Nunca entregue dinheiro, dados pessoais ou cartões a desconhecidos.

  • Desconfie de propostas “boas demais para ser verdade” e de histórias que envolvam pressão ou urgência.

  • Em caso de tentativa ou consumação do golpe, registre imediatamente um boletim de ocorrência. A denúncia é crucial para interromper a ação desses criminosos e evitar novas vítimas.

As investigações servem como um alerta: um crime centenário se adapta e prospera, explorando a confiança e a esperança das pessoas. A melhor defesa continua sendo a informação e a desconfiança de enredos mirabolantes que prometem riqueza instantânea.

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Edição 269