Mulheres lutam para deixarem de ser coadjuvante e acusações de fake news marcam eleição

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Duas advogadas lutam para fazer história e quebrar o paradigma da mulher sempre ser coadjuvante na OAB/MS (Ordem dos Advogados do Brasil, seccional de Mato Grosso do Sul). Na eleição marcada por troca de acusações de fake news, 10.538 eleitores vão às urnas nesta sexta-feira (19) e podem decidir por Raquel Magrini da chapa “Um Novo Tempo para a OAB/MS”, Giselle Marques, da “OAB 4.0 – Mudança de Verdade”, e Bitto Pereira, da Chapa “Mais OAB”, onde restou somente o espaço de vice à mulher, a advogada Camila Bastos , filha do desembargador Alexandre Bastos, do Tribunal de Justiça.

Em um dos pleitos mais tensos da história da instituição, a briga é pelo orçamento de R$ 11 milhões, pelo poder político e pela indicação do próximo desembargador, passando a ter influência na mais alta corte do Poder Judiciário estadual. Um advogado será indicado para a vaga do desembargador Claudionor Miguel Abss Duarte, que se aposenta em agosto. A votação será das 9h às 17h desta sexta-feira (19).

Primeira e única mulher a presidir a Ordem, a advogada Elinice Carille, tem esperanças de que quebrar esse tabu de três décadas. “Chegou a hora de uma mulher independente, trabalhadora e querida por todos, e que o mais importante: dará outro rumo à nossa OABMS, que está à deriva”, afirmou. Ela presidiu a entidade por dois mandatos no final dos anos 80.

“Não será apenas coadjuvante mas guiará a nossa OABMS com a sensibilidade de mãe e também de advogada militante. Vai honrar a promessa de trazer todos os advogados para dentro da Ordem e não apenas alguns amigos do Rei. Por uma Nova OAB vamos eleger Rachel Magrini”, defendeu Elenice.

Giselle Marques ficou de fora do tiroteio entre os dois principais candidatos a presidente (Foto: Divulgação)
No entanto, a batalha não será fácil. Rachel foi bombardeada pelo Blog do Nélio e pelo site Diário Patriota, da família Portilho. Apesar da advogada nunca ter presidido a entidade, eles a acusam de deixar rombo quando ocupou o cargo de secretária geral. Em uma das postagens, recorreram a termos machistas para desqualifica-la.

“Apesar de termos sido vítimas desde o início, inclusive de blogs e sites cujos donos já foram até condenados e presos pela Justiça por produzirem fake news, temos visto uma tentativa de marketing do adversário de tentar se vitimar, acusando-nos de produzir fake news”, explicou Rachel Magrini. Ela conseguiu liminar na Justiça para excluir matérias baseadas em mentiras e adjetivos ofensivos.

“Estão se baseando em decisões nitidamente parciais do Conselho Eleitoral, proferidas por pessoas nomeadas pelo atual presidente da Ordem, algumas até participando de comissões com a atual gestão, que sequer indicaram precisamente qual teria sido a notícia falsa que reproduzimos”, acusou, sobre o texto distribuído pelo adversário com base em decisões da Comissão Eleitoral.

Bitto Pereira foi procurado por meio da assessoria para se manifestar, mas a equipe do candidato se limita a propagar aos jornais amigos. Mansour também passou a não responder aos questionamentos. O espaço segue aberto para ambos, como deve funcionar em qualquer democracia e onde a imprensa deve ser aberta para apresentar todas as versões, não servir de canhão para destruir a reputação dos adversários.

“Graças a Deus, não nos envolvemos nas trocas de acusações entre as duas chapas da situação. Uma apoiada pelo atual presidente. A outra apoiada por três ex-presidentes. Grupos que se revezam no poder na OAB há mais de trinta anos, sem que isso resulte na melhora efetiva para o exercício da advocacia”, avaliou Giselle Marques, sobre a campanha eleitoral que termina com a eleição nesta sexta-feira.

O papel da mulher

Há 30 anos, homens se revezam no comando da OAB, apesar de 53% dos inscritos serem do sexo feminino. Para mudar este panorama, na atual campanha, a paridade entre homens e mulheres é obrigatória e foi cumprida pelas três chapas.

A diferença está no papel destinado às mulheres. Além de ocuparem o posto de presidente, Giselle Marques e Rachel Magrini colocaram advogadas em papel estratégico. Na chapa de Bitto, além da vice, elas ocupam o papel de vice ou adjunta. A única exceção é a Escola Superior da Advocacia que tem uma candidata mulher como presidente.

Rachel Magrini citou a paridade como estratégica para garantir equidade de espaços e de oportunidades para as mulheres conquistarem maior representatividade. Para a advogada, o trabalho deve ser feito com todos os advogados e advogadas e de forma propositiva.

“Vejo com expectativa muito favorável, e me sinto vitoriosa pois há mais de três décadas eu luto pelo empoderamento feminino. Em 2016, por exemplo, ano que a OAB intitulou como sendo ‘da mulher advogada’, eu liderei um movimento de protesto pelo fato de não ter sido indicada pela OAB MS nenhuma única mulher na lista sêxtupla para escolha do desembargador do TJ MS na vaga do Quinto Constitucional”, lamentou Giselle. Naquele ano, o indicado foi o advogado Alexandre Bastos, pai da candidata a vice na chapa de Bitto Pereira.

“Os currículos das mulheres que se apresentaram nessa disputa eram muito mais robustos que os dos candidatos do sexo masculino. Candidatas com pós-doutorado foram preteridas em favor de homens com formação bem inferior. São situações assim que evidenciam que o discurso em favor das mulheres não se consolida na prática, quando o assunto é a ocupação de espaços de poder”, criticou.

Por meio da assessoria em material distribuído aos jornais, Bitto exaltou a democracia. “Foi uma celebração da democracia, das advogadas e advogados que acreditam em uma campanha propositiva, de uma chapa que trabalha incessantemente pelas nobres causas da advocacia”, avaliou o candidato da situação.

Bitto é a aposta do grupo de Mansour Elias Karmouche para emplacar o terceiro mandato consecutivo na OAB/MS. Ele também conta com o apoio da administração de Reinaldo Azambuja (PSDB). Houve até reunião no escritório de advocacia do filho do tucano, o advogado Rodrigo Souza e Silva.

 

Fonte: O Jacaré

 

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