Proibido há mais de 80 anos no Brasil, o jogo do bicho, jogatina com presença histórica e livre em Mato Grosso do Sul, caminha para uma versão legalizada que permitirá a exploração das apostas por até quatro empresas, considerando o tamanho da população do Estado. O limite é extraído do Projeto de Lei 442/91, aprovado pela Câmara Federal na última quinta-feira (dia 24). Conforme o texto, poderá haver, no máximo, uma operadora desse jogo a cada 700 mil habitantes do Estado.

Mas enquanto o projeto, que pode levar as apostas para as 79 cidades, ainda caminha para sair do papel, o cenário em Campo Grade, principal mercado, é do domínio de dois grupos. Com ocaso de Jamil Name, que foi preso na operação Omertà e morreu ano passado, a jogatina foi assumida pelo MTS, grupo do Rio de Janeiro, e por um grupo que migrou de São Paulo.

“Hoje, em Campo Grande, temos dois grupos do jogo do bicho. O MTS é o maior e um outro grupo, que só operava no interior e agora está em Campo Grande. Trabalham com ele vários policiais civis aposentados, que trabalhavam com os Names antigamente”, afirma fonte policial consultada pelo O Jacaré. Uma outra fonte, que contesta a informação, diz que o segundo grupo é de São Paulo.

Sobre a legalização, a fonte policial descreve o jogo do bicho como uma “lavanderia violenta”, numa alusão ao crime de lavagem de dinheiro, quando tenta se ocultar a origem criminosa de valores.

Em dezembro de 2020, a operação Arca de Noé, sexta fase da operação Omertà, apontou que mesmo após as prisões de Jamil Name e Jamil Name Filho em 2019, o jogo do bicho continuava em atividade e vinha mantendo faturamento de R$ 50 mil por dia. O dinheiro da contravenção ajudava a manter o poderio econômico do grupo.

Em junho do ano passado, pouco antes de morrer vítima de covid aos 82 anos, Jamil Name contou que se estabeleceu em Campo Grande no fim da década de 60. Para ganhar dinheiro, fez parcerias para anotar jogo do bicho e pife-pafe (jogo de cartas). O pagamento vinha em dinheiro e sacas de soja.

Outra grande questão é se a legalização conseguiria retirar os operadores que comandam o mercado ilegal.

“Não vejo problema no jogo do bicho pagando imposto. O problema é a guerra pela região. Não sei se vai acabar com a briga e a matança por território”, diz o policial.

Histórico de liberdade

O jogo do bicho surgiu no Brasil há mais de 120 anos, com a criação de banco de apostas para evitar que o zoológico do Rio de Janeiro fechasse. Já em 1941 passou a ser proibido pela lei como jogo de azar e considerado contravenção.

Em Campo Grande é conhecido desde sempre e até ganhou menção especial em relatórios do SNI (Serviço Nacional de Informação) datado 1981. Um dos pilares do sistema repressivo da ditadura, o serviço de espionagem destacou que na década de 1980 a jogatina imperava. Não só na modalidade jogo do bicho, mas também em cassinos espalhados por mansões de endinheirados, no que se convencionou chamar de alta sociedade.

O documento do SNI traz um circuito da jogatina, com cassino e bancas do jogo do bicho. Na Rua Dom Aquino, um policial foi apontado como responsável por imóvel que abrigava jogos de azar. Na mesma via, foram citados outros dois endereços. Segundo o relatório, a jogatina também acontecia na Barão do Rio Branco e na Calógeras. Era apontada a conivência de autoridades de seguranças.

 

Fonte: O Jacaré

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