Na noite desta quinta-feira (14), no plenário da Câmara Municipal de Três Lagoas, por meio de uma propositura do vereador Dr. Issam Fares Junior, aconteceu a Audiência Pública intitulada “As Matrizes Africanas e o espaço de acolhimento dos invisíveis da sociedade nos terreiros”, com palestras ministradas pelo sacerdote Bàbá Frank Ifatowo Edesola Adebayo (Francivan Leão Nobre) e pelo professor doutor Paulo Fioravante Giareta.
Na mesa de honras estavam: o professor José Bento de Arruda, presidente do Conselho Municipal dos Direitos do Negro; o professor mestre Edimilson Cardoso da Cruz, presidente do Conselho Municipal da Diversidade Sexual LGBTQIAP+; a professora doutora Honoris Causa Luciana Rueda Soares, presidente do Fórum Estadual de Matrizes Africanas e Ifá; a professora doutora Icléia Caires Moreira, presidente do Colegiado Setorial de Cultura Afro de Três Lagoas.
O evento começou com duas apresentações culturais. A primeira da escola de capoeira Atleta do Bem, que deu uma aula sobre a origem da luta/dança antes de se apresentar. Na sequência, o núcleo de dança da Secretaria Municipal de Educação e Cultura (SEMEC) animou o plenário ao som da música “Maria, Maria”, de Milton Nascimento. O vereador Professor Negu Breno, que não pôde comparecer, enviou uma mensagem reafirmando seu compromisso com o povo negro, sua principal bandeira na Câmara de Vereadores.
Ambos os palestrantes trouxeram dados e o histórico das religiões de matrizes africanas, também falaram sobre o povo negro. Apresentaram as consequências que o desconhecimento dessa cultura gera, sendo as principais: o preconceito e a exclusão na maioria dos ritos sociais e espaços públicos.
Resumindo muito bem a audiência: “não queremos aceitação, queremos respeito”, disse uma pessoa do público ao fazer sua pergunta: porque os negros só aparecem nas escolas, no currículo escolar, quando se fala de escravidão? “A nossa educação, historicamente, não foi planejada para essa integração cultural e humana; estão mais voltadas para os fluxos de economia e trabalho”, justificou Paulo Fioravante, que ainda alertou: “não adianta exigir esse ensino se não tiver uma formação do professor antes, uma mudança cultural, um fortalecimento desse desejo”.
Quando questionado sobre o diálogo inter-religiosidade, entre as diferentes vertentes do candomblé e umbanda, por exemplo, Bàbá Frank reforçou que as várias filosofias precisam se unir e reforçar a identidade dessa religião, para que cada vez mais ela deixe de ser vista como “uma encenação do folclore”.
Saulo dos Santos, assessor técnico da Associação Alemã, foi convidado para apresentar o projeto “Territórios Vivos”, que tem como objetivo fazer o cadastro e levantamento, inclusive georeferenciado, para tirar da invisibilidade todos os terreiros. Saulo também provocou o público para que o evento fosse encerrado já com a previsão dos próximos passos. Duas ideias surgiram: fazer um “Seminário Regional de Matriz Africana” e instituir um “Dia Municipal” ou “Semana” dos povos de matrizes africanas.
Palestrantes
Bàbá Frank é sacerdote do templo Ilê Asè Obasegun Jagun Edesola na cidade de Campo Grande/MS. Também sacerdote Logunede, iniciado no Brasil em 1982 e iniciado no culto tradicional Yorùbá para Logunede em 2016. Acadêmico de História e ciências da política e ativista nas causas em defesa da cultura e religiosidade tradicional Yorùbá e tradições Afro Brasileira e Dr. Honoris Causa.
Paulo Fioravante é doutor em Educação pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), com estágio pós-doutoral em Educação pela Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). Mestre em Educação pela Fundação Universidade Regional de Blumenau (FURB). Professor da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), campus de Três Lagoas (CPTL). Coordenador do Curso de Pedagogia da UFMS-CPTL entre os anos de 2018 e 2019. Professor permanente do Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGEdu-CPTL).