A Bolsa brasileira registrou forte queda e fechou em seu pior nível em quase quatro meses nesta terça-feira (26), pressionada por temores sobre uma nova alta de juros nos Estados Unidos.
Investidores repercutiram, ainda, a divulgação da ata do Copom (Comitê de Política Monetária) e do IPCA-15 (Índice de Preços ao Consumidor Amplo – 15) de setembro, que diminuíram as apostas de uma possível aceleração do corte de juros no Brasil e também pesaram contra os ativos locais.
Com isso, o Ibovespa encerrou a sessão em queda de 1,49%, aos 114.193 pontos, em seu menor patamar desde 5 de junho de 2023.
Já o dólar subiu 0,46% e terminou o dia cotado a R$ 4,988, ganhando força justamente com a perspectiva de alta de juros nos EUA, que aumenta os rendimentos dos títulos do Tesouro americano e, consequentemente, atrai recursos para os EUA.
Na ata de sua última reunião, divulgada nesta manhã, o Copom reiterou que o ritmo de redução da Selic deve continuar em 0,50 ponto percentual em suas próximas decisões, afirmando que uma intensificação dos cortes exigiria “surpresas substanciais”.
“Avaliou-se ainda que não há evidência de que esteja em curso um aperto além do que seria necessário para a convergência da inflação para a meta e que o cenário ainda inspira cautela, reforçando a visão de serenidade e moderação. O Comitê julga como pouco provável uma intensificação adicional do ritmo de ajustes”, diz o documento.
Além disso, o Copom voltou a mencionar as metas de déficit primário propostas pelo governo, afirmando que a desconfiança sobre o cumprimento dos objetivos fiscais tem elevado a preocupação com a inflação.
“O Comitê avalia que parte da incerteza observada nos mercados, com elevação de prêmios de risco e da inflação implícita, estava anteriormente mais em torno do desenho final do arcabouço fiscal e atualmente se refere mais à execução das medidas de receita e despesas compatíveis com o arcabouço e o atingimento das metas fiscais”, disse.
Para Camila Abdelmalack, economista-chefe da Veedha Investimentos, a ata deve acomodar as expectativas do mercado de que a Selic deve ficar em 11,75% ao ano no fim de 2023, o que significaria mais duas reduções de 0,50 ponto percentual nas próximas reuniões, num cenário de menos espaço para redução da inflação no segundo semestre.
Para 2024, a economista cita como riscos a restrição causada por juros mais altos no cenário internacional e a dinâmica das metas fiscais, ambas citadas pelo Copom.
“A dúvida não é mais sobre o arcabouço fiscal, que já foi aprovado, mas sobre as medidas para aumentar a receita e cumprir as metas da nova regra”, afirma Abdelmalack.
O especialista em renda fixa Ricardo Jorge, sócio da Quantzed, tem a mesma avaliação, afirmando que o conteúdo da ata veio em linha com o comunicado divulgado pelo Copom na semana passada.
“O Banco Central segue cauteloso ao afirmar que, pelo menos em 2023, ainda não se sente confortável para acelerar os cortes para 0,75 ponto. O mercado vinha pressionando para que houvesse essa aceleração, e acho que agora fica mais do que claro de que o BC não está disposto a aumentar ritmo”, diz Jorge.
Nesta manhã, também houve a divulgação do IPCA-15 pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), que mostrou uma aceleração da inflação para 0,35% em setembro, após alta de 0,28% em agosto. O índice foi pressionado principalmente pela gasolina.
Apesar da alta, o resultado ficou levemente abaixo das estimativas do mercado: analistas consultados pela Bloomberg projetavam avanço de 0,37%.
Com o novo resultado, o IPCA-15 alcançou 5% no acumulado de 12 meses. Nesse recorte, a alta era de 4,24% até agosto.
Rafael Costa, analista da BGC Liquidez, afirma que o resultado do IPCA-15 de setembro deu sinais mistos.
De um lado, os itens de alimentação e bebidas surpreenderam positivamente e puxaram o indicador para baixo. O grupo recuou pela quarta vez consecutiva e teve queda de 0,77% em setembro, gerando uma contribuição de -0,16 ponto percentual.
A inflação do setor de serviços, no entanto, veio maior que o esperado, puxada principalmente pelas passagens aéreas, em meio à alta do petróleo no exterior.
“Enquanto a média dos núcleos continuou recuando e alguns segmentos de preços apresentaram excelentes resultados, o grupo de serviços veio com alguns detalhes ruins. Para um BC que tem se mostrado particularmente preocupado com a dinâmica dessa classe, o dado de hoje não ajuda nas discussões de possível aumento de ritmo [de cortes da Selic]”, afirma Costa.
Expectativa de alta de juros nos EUA pressiona ativos de risco
Nos Estados Unidos, seguem crescendo as apostas de uma nova alta de juros neste ano, como sinalizado pelo Fed (Federal Reserve, o banco central americano) na semana passada.
Os títulos do Tesouro americano vêm registrando alta e, consequentemente, penalizando ativos de risco globalmente. Isso porque o maior retorno desses papéis, que são mais seguros, tornam a renda variável e investimentos em outros países opções menos vantajosas para investidores, atraindo recursos para o mercado de renda fixa dos EUA.
Os índices acionários americanos também foram penalizados e fecharam em forte queda. O S&P 500, o Dow Jones e o Nasdaq recuaram 1.47%, 1,14% e 1,57%, respectivamente.
Na Bolsa brasileira, o cenário negativo se repetiu, e o Ibovespa operou em queda desde o início do dia.
Seguindo as taxas americanas, os juros futuros no Brasil registravam forte alta nesta tarde, o que pressiona as empresas locais. Os contratos com vencimento em janeiro de 2025 foram de 10,58% para 10,76%, enquanto os para 2027 subiam de 10,62% para 10,87%.
Com isso, a maioria das companhias listadas no Ibovespa operavam em queda, com as principais sendo Vale e Petrobras, as duas maiores empresas da Bolsa, que caíram 1,53% e 2,13%, respectivamente. As maiores baixas do dia foram de Petz (5,60%), GPA (5,10%) e Renner (4,64%).
Na ponta positiva, a BRF liderou os ganhos do dia com alta de 2,79%, seguida pela Eletrobras, que subiu 1,88%.
Apesar da forte queda recente do Ibovespa, o operador da renda variável da Manchester Investimentos Thiago Lourenço afirma que o índice deve voltar a subir nos próximos meses e até buscar o patamar dos 130 mil pontos.
“As quedas de juros no Brasil e uma estabilidade na alta das taxas americanas pode alimentar bons resultados para as empresas. No fim do trimestre veremos balanços das empresas, e a perspectiva é mais favorável que no segundo. Isso deve alimentar um cenário mais benéfico para o Brasil”, diz Lourenço.
Com FolhaPress/Correio do Estado