A quadrilha dos irmãos Martins, alvos da Operação Prime da Polícia Federal, desencadeada no dia 15 de maio deste ano, tinha um sofisticado sistema de acompanhamento da droga traficada para cidades das regiões Sul e Sudeste do Brasil.
Caminhonetes e caminhões que traficavam cocaína a partir de um depósito logístico em Campo Grande, e também da fronteira com o Paraguai, em Dourados e Ponta Porã, eram rastreados via satélite, foi o que apontou investigação da Polícia Federal. Marcel Martins Silva, 35 anos, e Valter Ulisses Martins Silva, 27, são dois alvos da operação desencadeada há pouco mais de um mês.
Marcel está preso e Valter está foragido – segundo indicam informações apuradas com a PF, provavelmente está no Paraguai, país de onde saía a droga que era levada para São Paulo, Paraná e Santa Catarina.
Trecho do inquérito que resultou na Operação Prime indica a gestão logística da frota de caminhonetes e caminhões à serviço do tráfico. “Verifica-se que Valter Martins instala nos veículos utilizados pelo grupo criminoso equipamentos de rastreamento que permitem indicar a localização precisa, tanto no Brasil quanto no Paraguai”, aponta a investigação.
A partir do telefone celular de Valter Martins, que mora em um dos condomínios mais luxuosos de Dourados, ele rastreava todos seus batedores, responsáveis por fazer o transporte dos carregamentos, ou de fazer a segurança das cargas de cocaína.
Os batedores cuja localização foi compartilhada no telefone de Valter Martins e que a Polícia Federal teve acesso, segundo consta em inquérito, são Cowboy, apelido de Wagner Germany; Moreno, identificado como Vagner Antonio Rodrigues de Moraes; e Sara ou Sarita, identificado como Paulo Antônio da Silva Viana. Ainda foram identificados outros dois batedores.
Independentemente da constatação de que os irmãos Martins rastreavam as cargas de cocaína traficadas para outras regiões a partir de Mato Grosso do Sul, a Polícia Federal já vinha monitorando um depósito logístico do grupo localizado em Campo Grande.
Neste local, onde Cowboy havia sido visto, pelo menos dois caminhões flagrados neste depósito foram retidos transportando cocaína nas cidades de Curitiba (PR) e Araçatuba (SP). A carga apreendida na capital paranaense foi de 240 quilos de cocaína, e no interior de São Paulo, de 167 quilos de cocaína.
Negócio lucrativo
A Polícia Federal também identificou que o tráfico é um negócio ilícito que gerava alto rendimento para os chefões da quadrilha. Os irmãos Martins tinham como principal fornecedor Antonio Joaquim Mendes Gonçalves da Mota, conhecido como “Motinha” e “Dom”, que atualmente é um dos principais traficantes da fronteira.
Motinha também foi alvo da Operação Prime, mas estava foragido desde que foi alvo de outra operação, a Magnus Dominus, desencadeada em 2023.
Os carregamentos custavam, em média, segundo a Polícia Federal, US$ 2,7 mil o quilo. Na cotação de sexta-feira (21), cada quilo de cocaína comercializado pelos Martins era vendido a R$ 14,6 mil.
Uma carga de 240 quilos, como a que foi apreendida em Curitiba (que provavelmente saiu de Campo Grande) em 2023, renderia ao grupo aproximadamente R$ 3,5 milhões.
Segundo a Polícia Federal, Marcel Martins era o líder e comandante da organização e Valter o responsável pela logística e contato com outros operadores. Marcel se instalou em Dourados depois de cumprir pena por tráfico no Paraná. Na cidade do interior, levava uma vida de luxo, no condomínio Porto Madero.
Em Dourados também tornou-se sócio de duas empresas: a Efraim Incorporadora e a Primeira Linha Acabamentos. Os sócios deles nas empresas, Alexander Souza (do Paraná) e Carlos José Alencar Rodrigues, respectivamente, também foram presos na Operação Prime.
Com Correio do Estado