Mais de uma década após a paralisação, a obra da Unidade de Fertilizantes Nitrogenados III (UFN3) será retomada neste ano. Conforme matéria do Correio do Estado desta sexta-feira (7), o governador Eduardo Riedel (PSDB) já foi informado de que a licitação para a escolha da empresa responsável pela obra será feita até o início do segundo semestre, com orçamento de US$ 800 milhões (R$ 4,6 bilhões) para sua conclusão.
O Conselho de Administração da Petrobras aprovou a continuidade da implantação da indústria em outubro do ano passado. A confirmação da continuidade da obra, emblemática para a economia de Mato Grosso do Sul, veio ainda no ano passado, mas neste ano a retomada entra mais fortemente na lista de prioridades da estatal.
A presidente da Petrobras, Magda Chambriard, afirmou nesta terça-feira, durante o Fórum Brasil de Energia, na sede da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), que a companhia recebeu “encomenda” do Planalto para impulsionar o Produto Interno Bruto (PIB) do País, e o incentivo à industrialização é o principal enfoque para acelerar esse crescimento.
“Temos de mostrar para a indústria que o que fazemos tem que se reverter em progresso para o povo. Não podemos crescer sozinhos, precisamos da indústria nacional e internacional para nos atender prontamente”, disse Magda Chambriard. E completou: “Estejam preparados [indústria], porque estamos pisando no acelerador”.
Conforme reportagem publicada pelo Valor Econômico, entre as prioridades da companhia, estão a ampliação do parque de refino e a volta dos investimentos em fertilizantes e biocombustíveis. A UFN3 entra como um dos principais ativos na produção de fertilizantes do Brasil.
Inicialmente, o plano era de que as obras fossem finalizadas até 2026, antes do fim do mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Contudo, considerando que o período de construção deverá levar entre 12 meses e 18 meses, o prazo já começa a ficar apertado.
Interrupção
A construção da UFN3 foi interrompida em 2014, quando cerca de 80% das obras já estavam concluídas. Para que o empreendimento seja finalizado, será necessário não apenas completar a estrutura inacabada, mas também reparar os danos causados pela deterioração ao longo da última década.
A retomada das obras da fábrica trará benefícios não apenas para MS, mas para todo o País. A unidade terá capacidade para produzir 3.600 toneladas diárias de ureia e 2.200 toneladas de amônia, reduzindo significativamente a dependência brasileira da importação de fertilizantes nitrogenados.
Com a ativação da unidade em Três Lagoas, estima-se que a importação desses insumos poderia cair entre 15% e 30%. No entanto, um dos desafios para a retomada da obra é a necessidade de uma parceria societária que viabilize o projeto.
A fábrica localizada em Três Lagoas será a maior produtora de ureia e amônia da América do Sul. Conforme já adiantado pelo Correio do Estado, na fase de construção, a obra deverá empregar 8 mil pessoas e, na fase de operação, mais 600, entre empregados da Petrobras e terceirizados.
No início de julho do ano passado, a reportagem revelou que a empresa norueguesa Yara Fertilizantes poderia ser esse parceiro estratégico – possibilidade que ainda não foi descartada pela Petrobras.
Projeto
A construção da UFN3 teve início em 2011, mas foi interrompida em 2014, em função do envolvimento de integrantes do consórcio responsável em casos de corrupção, quando a obra já estava 80% concluída.
O processo de venda da unidade começou em 2018, incluindo também a Araucária Nitrogenados (Ansa), localizada em Curitiba (PR). No entanto, a venda conjunta inviabilizou o negócio.
Em 2019, a empresa russa Acron chegou a um acordo para adquirir a UFN3, mas a crise política na Bolívia impediu a concretização da transação. Em fevereiro de 2020, a Petrobras reabriu o processo de venda, retomando as negociações apenas no início de 2022, novamente com o grupo russo.
Em 28 de abril de 2022, a Petrobras anunciou que a venda da fábrica para o Grupo Acron não havia sido concretizada. Ainda no mesmo ano, a estatal relançou a oferta da unidade no mercado.
Finalmente, em 24 de janeiro de 2023, a Petrobras declarou oficialmente o encerramento do processo de comercialização da UFN3, reacendendo as expectativas para a retomada das obras.
Com Correio do Estado