Advogada é apontada como gestora financeira de núcleo do PCC em Mato Grosso do Sul

Investigação expõe conexões internacionais do PCC, com núcleo em MS operando em modelo similar ao cartel mexicano Sinaloa

Thais Dias

Uma investigação da Polícia Civil do Distrito Federal (PC/DF) revelou que a advogada Aline Gabriela Brandão atuava como gestora financeira e patrimonial de um núcleo do Primeiro Comando da Capital (PCC) em Mato Grosso do Sul. Ela foi presa na Operação Chiusura, deflagrada em março deste ano, mas teve sua prisão convertida em medidas cautelares após decisão judicial.

Dos 19 presos na operação, 14 tiveram a prisão prorrogada até maio, incluindo três suspeitos de integrarem o Núcleo MS, também chamado de “Sinaloa” em referência ao cartel mexicano. Aline Brandão e Andressa Almeida Fernandes, outra investigada, foram liberadas sob medidas restritivas após o juiz Ângelo Pinheiro Fernandes de Oliveira, da 4ª Vara de Entorpecentes do DF, considerar que ambas têm filhos menores dependentes de seus cuidados.

O papel da advogada no esquema

Segundo a PC/DF, Aline Brandão era responsável por movimentações financeiras e pela criação de empresas de fachada para lavar dinheiro do tráfico de drogas. O inquérito, que teve o sigilo quebrado em março, aponta que ela administrava recursos e ocultava bens do grupo criminoso.

O Núcleo MS teria ligações com o cartel mexicano Sinaloa, indicando uma possível parceria internacional com o PCC. Além de Aline, outros integrantes do grupo foram identificados:

Rodrigo José Martins da Silva (“administrador oculto”)

Pedro Jorge Martins da Silva (“laranja patrimonial”)

Ronaldo Cardoso (“interposto financeiro”)

Andressa Almeida Fernandes (envolvida em simulação de renda)

Conexões familiares e criminosas

A investigação revela que Rodrigo e Pedro são irmãos de Thiago Gabriel Martins, conhecido como “Thiaguinho do PCC”, preso na Bolívia em 2023 com granadas e uma aeronave carregada de cocaína. Andressa é esposa de Pedro, enquanto Ronaldo Cardoso, suplente de vereador pelo Podemos, é casado com Suzi Adriana Martins, mãe dos três irmãos.

Aline Brandão foi apontada como mulher de Thiaguinho, mas ela afirmou à reportagem que já está divorciada. O nome de Suzi Adriana aparece em registros por ter contatos com Virgílio Augusto de Oliveira Feitosa, líder do Núcleo Nordeste/Alagoas, mas ela não é investigada na operação.

Movimentações milionárias e ligações com outros núcleos

A PC/DF apurou que Andressa movimentou cerca de R$ 8,1 milhões de forma suspeita. Há ainda indícios de que o grupo mantinha ligações com “JOSEANA”, uma mulher com mandado de prisão no Rio Grande do Norte por tráfico.

Interceptações telefônicas mostram que pessoas próximas a Ronaldo Cardoso comentavam abertamente sobre as prisões, sugerindo que ele “ajudava nos negócios do chefe” e que Thiaguinho enviava dinheiro para contas controladas pelo núcleo.

Origem da investigação

A operação começou após a prisão de Lucas da Silva Caetano Dias e Rafaela Soares Lopes Catulio, membros da “Gangue da Favelinha”, em junho de 2023. Com eles, foram apreendidos 6 kg de maconha, meio quilo de cocaína e um caderno com anotações criminosas.

A quebra de sigilo dos dados de Lucas levou à descoberta de quatro núcleos interligados (Planaltina/DF, Barbosa/GO, Nordeste/AL e Mato Grosso do Sul), todos supostamente ligados ao PCC.

A defesa de Aline Brandão argumentou que ela não cometeu crimes violentos e que tem renda compatível com seus bens, apresentando declarações de Imposto de Renda. No entanto, o juiz destacou que ela adquiriu veículos e imóveis sem comprovação de renda suficiente.

Apesar disso, ele concedeu liberdade com medidas cautelares, incluindo proibição de sair do país, contato com outros investigados e movimentação patrimonial sem autorização. Já Janaína Lira da Silva, do Núcleo Planaltina, continua presa após ser flagrada com 1 kg de drogas e duas armas.

A Operação Chiusura segue em andamento, com a PC/DF investigando a estrutura financeira e logística do esquema, que pode ter ramificações internacionais.

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Edição 247