A História de Robson e Graciele e as Filhas Que Trouxeram a Vida Para Sua Casa
Thais Dias
Há um tipo de silêncio que dói. Aquele que invade uma casa onde o choro de um bebê nunca ecoou, onde não há risadas infantis correndo pelos corredores, onde as paredes guardam a ausência de pequenas mãos sujas de tinta e lápis de cor. Esse silêncio acompanhou Robson e Graciele por 16 longos anos, enquanto eles sonhavam em se tornar pais. Até que um dia, o destino — ou melhor, o amor — escreveu uma história diferente para eles. Uma história que começou com um desejo, cresceu com a coragem e se tornou realidade com duas meninas que precisavam tanto deles quanto eles precisavam delas.
Robson sempre soube que a adoção faria parte de sua vida. Desde os tempos de namoro, ele conversava com Graciele sobre a possibilidade de abrir seu coração e seu lar para uma criança que precisasse de uma família. Mas Graciele, como muitas mães, alimentava o sonho de sentir uma vida crescendo em seu ventre, de segurar em seus braços um filho que carregasse seu sangue.
O tempo passou, a espera se alongou, e a dor da infertilidade pesou. Até que um dia, enquanto assistia a vídeos da influenciadora católica Bruna Gutstein — uma mulher que abriu as portas de sua casa e seu coração para cinco filhos pela adoção —, algo dentro de Graciele se moveu. Era como se uma luz tivesse se acendido, mostrando a ela que o amor de mãe não está condicionado à biologia, mas à disposição de amar, cuidar e se doar.
Foi assim que, no mesmo ano em que decidiram seguir o caminho da adoção, deram o primeiro passo.
Muitos imaginam que adotar no Brasil é um processo burocrático e demorado, mas para Robson e Graciele, tudo aconteceu com uma velocidade que só pode ser explicada pela mão do destino. Em apenas um ano, eles entregaram toda a documentação necessária, fizeram o curso exigido pela Vara da Infância, passaram pelas entrevistas psicológicas e foram considerados aptos para se tornarem pais.
Quando chegaram à etapa de definir o perfil da criança que gostariam de adotar, Graciele olhou para Robson e disse algo que marcaria para sempre a história deles:
“Quero adotar da mesma forma que iria gerar. Se fosse minha gestação, eu não escolheria como meu filho viria ao mundo”.
Foi assim que decidiram abrir seu coração para crianças de 0 a 6 anos, com qualquer tipo de comorbidade. Porque, assim como em uma gravidez, a vida é uma caixinha de surpresas — e eles estavam prontos para amar qualquer criança que o destino lhes confiasse.
Em janeiro de 2020, Robson foi ao fórum para corrigir um pequeno erro em seu cadastro. Mal sabia ele que aquele seria o dia mais importante de sua vida. Enquanto conversava com a responsável pelo processo, ela olhou para ele e disse:
“Temos uma menina aqui. Ela tem 5 anos e meio e já foi recusada por vários casais”.
Sem pensar duas vezes, Robson respondeu:
“Ela é minha filha”.
E assim, Nicole Maria entrou em suas vidas. Uma guerreirinha que havia enfrentado meningite bacteriana, hidrocefalia e anos de abandono. Quando chegou, não andava, seu olhar era distante, cheio de medo e desconfiança. Mas com o tempo, o amor paciente de Robson e Graciele fez milagres. Nicole começou a andar, a sorrir, a confiar. Eles descobriram que ela estava no espectro autista, o que os ajudou a entender ainda mais o mundo dela.
Dois anos depois, o telefone tocou novamente. Dessa vez, era sobre uma bebê que havia sido entregue através da Entrega Legal. Sua genitora havia usado crack durante toda a gestação, mas, contra todas as probabilidades, aquela pequena vida resistiu. Graciele não pensou duas vezes:
“Sim, ela é nossa”.
E assim, Lorena Maria completou a família. Hoje, ela também passa por avaliações para entender seu desenvolvimento, mas uma coisa é certa: ela é amada, protegida e celebrada todos os dias.
Infelizmente, nem todos entenderam a escolha de Robson e Graciele. Alguns olhares foram de desaprovação, outros de pena. Mas os mais doloridos vieram de profissionais da saúde, que chegaram a dizer que eles estavam cometendo uma loucura, que deveriam “devolver” Nicole e “curtir a vida”.
Robson respondeu com sabedoria:
“Corajosas são elas, que nos aceitaram como pais”.
Porque, no fim, o que dói não é o cansaço das noites mal dormidas, nem os desafios das consultas médicas. O que dói é lembrar do silêncio que um dia reinou em sua casa. Um silêncio que hoje foi substituído pelo barulho das meninas correndo, pelas risadas altas, pelos “eu te amo” sussurrados antes de dormir.
Nas fotos: Nicole Maria (esquerda) e Lorena Maria (direita).
O Recado Para Quem Tem Medo de Adotar
Se você está pensando em adotar, mas o medo trava seu coração, Robson e Graciele têm um recado para você:
“Não tenham medo. As crianças que esperam por uma família não precisam de pais perfeitos, elas só precisam de amor. A adoção não é sobre vocês cumprirem o sonho de ter um filho, é sobre uma criança ter o direito de ter uma família”.
E quanto ao sustento? E se o dinheiro faltar? E se as coisas derem errado?
“A Providência Divina nunca falha. Quando você abre seu coração, Deus abre as portas”.
Eles finalizam com um desafio que ecoa como um chamado ao amor:
“Você quer um mundo melhor? Então comece mudando o mundo de uma criança. Adote”.
Porque, no fim das contas, não foram Robson e Graciele que resgataram Nicole e Lorena. Foram elas que os resgataram de uma vida sem risadas, sem bagunça, sem amor.
Esta matéria é dedicada a todas as famílias que nascem não do sangue, mas da coragem de amar.