Investigação aponta que ex-secretário da Educação de MS não seria o beneficiário final, mas sim um ‘chefe’ não identificado.
Thais Dias
A Polícia Federal (PF) identificou o ex-secretário adjunto da Educação de Mato Grosso do Sul, Edio Antonio Resende de Castro Bloch, como uma peça secundária em um suposto esquema de corrupção que teria um “chefe de alto patamar” como cérebro. As informações constam no relatório de 85 páginas que embasou a Operação Vox Veritatis, deflagrada em 21 de maio, com buscas em Campo Grande e no Rio de Janeiro. A investigação, conduzida pelo delegado Marcos Damato, concentrou-se em dois contratos com recursos federais, mas há indícios de irregularidades em outras compras. Segundo o documento, dados sobre esses contratos serão enviados posteriormente ao Ministério Público Estadual (MPE).
Um dos trechos mais reveladores do relatório está na página 10, onde diálogos entre empresários investigados mostram insatisfação com o pagamento de R$ 1 milhão em espécie a uma pessoa ou instituição chamada “Sistema Solar”. Em conversa de 7 de fevereiro de 2022, os investigados reclamam do valor. “Quem combinou juntar isso?”, questiona um deles. “Foi o Gordim”, responde outro, identificado como Leonardo. “Gordim”, segundo a PF, seria Luiz Gonzaga Crosara Júnior, vice-presidente da Federação das Indústrias de Mato Grosso do Sul (FIEMS), entidade ligada ao Sistema S (Sesi, Senai, Sesc, Senac, Senar e Sebrae).
Os empresários questionam o cálculo da propina. “Não tô entendendo esse cálculo dele, de comissão vai dar R$ 1.687.000,00. E vai arrumar R$ 1 milhão? E aí?”, reclama um deles. “Mas disse, cara, pediu”, responde Leonardo. Em outro momento, um dos envolvidos afirma que o pagamento deveria ser proporcional ao valor liberado: “Comprou R$ 30 milhões licitados, pagou R$ 11 [milhões]. Vai receber 1/3 da comissão.” O relatório sugere que o esquema envolvia repasses sobre contratos de mobília escolar, com propinas calculadas sobre valores liberados.
Na página 21, Leonardo menciona que Edio não seria o destinatário final do dinheiro. “O chefe tá sem din din.” “Tá doido, muito fominha”, responde outro interlocutor. A PF interpreta que o “chefe” citado poderia ser o próprio Edio ou alguém acima dele, já que os investigados costumavam se referir ao ex-secretário pelo nome.
Edio Bloch foi ordenador de despesas da Secretaria de Educação durante o governo Reinaldo Azambuja (PSDB) e permaneceu no cargo por 11 meses no governo seguinte, até ser demitido em novembro de 2023, durante a Operação Turn Off. Com um orçamento de R$ 3,179 bilhões em 2023 (16,3% maior que em 2022), a pasta era a mais poderosa do estado, superando até a Saúde. Edio tinha amplos poderes, como assinar contratos, homologar licitações e decidir sobre aditivos. Sua trajetória no serviço público começou em Maracaju, quando Azambuja era prefeito. Posteriormente, seguiu o político para a Assembleia Legislativa e, depois, para o governo do estado.
O relatório não identifica quem seria o “Sistema Solar”, mas a PF sugere que se trata de alguém de “alto patamar”. Especialistas apontam que a omissão pode ser estratégica para evitar que o caso seja remetido a instâncias superiores, como o STF, caso envolva autoridades com foro privilegiado (governador, deputados ou senadores). Por enquanto, a investigação