Servidor da Agepen acusado de repassar informações sigilosas e auxiliar líder do PCC; operação revela infiltração no sistema prisional
Thais Dias
Um policial penal de Mato Grosso do Sul foi preso nesta quarta-feira (6) após investigações do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado) comprovarem seu envolvimento com o Primeiro Comando da Capital (PCC). Jonathas Wilson Morais Cândido, servidor da Agepen (Agência Estadual de Administração do Sistema Penitenciário), mantinha relação estreita com Edimilson Santos Pereira, identificado como um dos chefes da facção no estado.
A prisão é mais uma etapa da Operação Blindspot, que já havia investigado o policial anteriormente. Em 9 de julho, ele foi alvo de busca e apreensão, mas a Justiça negou o pedido de prisão na ocasião. Desta vez, novas provas – incluindo trocas de mensagens e transferências financeiras – convenceram a Justiça a decretar sua prisão preventiva. Jonathas passará por audiência de custódia nesta quinta-feira (7).
O papel do policial na facção
As investigações revelaram que Jonathas não era um mero cúmplice, mas um aliado estratégico do crime organizado. A relação com Edimilson começou após uma negociação envolvendo uma motocicleta e evoluiu para cooperação ativa. Entre as acusações:
Repasse de informações sigilosas do sistema prisional e da segurança pública;
Consulta ilegal de dados de presos e veículos a pedido do traficante;
Fornecimento de munições de forma irregular;
Alertas sobre operações policiais, incluindo fotos de agentes em ação.
Em um dos episódios mais graves, em dezembro de 2022, Jonathas acessou o sistema penitenciário para obter dados de um detento que devia R$ 300 mil ao PCC e enviou uma print da tela com as informações confidenciais. Em outra ocasião, checou placas de veículos para o criminoso.
A estrutura do esquema criminoso
A investigação expôs uma rede complexa que incluía:
Transporte de drogas por caminhoneiros, com cargas escondidas em cilindros de oxigênio e outros compartimentos;
Movimentação financeira por mulheres ligadas aos líderes, que faziam transferências e recebiam pagamentos em espécie;
Apoio logístico, como um serralheiro especializado em adulterar cilindros para ocultar entorpecentes.
A operação, que já cumpriu 67 mandados (37 prisões e 30 buscas) em MS, SP e MG, teve como base provas obtidas com a apreensão do celular de Edimilson, onde foram encontradas conversas comprometedoras com o policial penal.
Esta não é a primeira vez que Jonathas é alvo de investigação. Em março de 2022, ele foi preso na Operação Courrier, que desarticulou um esquema de venda de regalias a presos do PCC. Na época, o STJ considerou sua prisão ilegal por falta de urgência, e ele foi liberado.
Apesar das acusações, o policial continua ativo na Agepen, recebendo um salário bruto de R$ 7.334,91. Ele também responde a um processo por ameaça a um vizinho em 2022, reforçando seu histórico de condutas irregulares.
O caso tramita em segredo de Justiça, e as investigações continuam para identificar outros possíveis infiltrados no sistema prisional. A Operação Blindspot segue em andamento, com expectativa de novas prisões.