Crise política se aprofunda em MS após governador desafiar PT e defender críticas ao STF

Governador afirmou que ninguém do PT o procurou para dialogar e deu a entender que saída de petistas da base não preocupa: “Pessoas não são insubstituíveis”

 

A decisão do governador Eduardo Riedel de publicamente endossar críticas ao ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes, referindo-se à prisão domiciliar do ex-presidente Jair Bolsonaro como “excesso judicial”, desencadeou uma crise política sem precedentes em Mato Grosso do Sul. A reação imediata dos dirigentes estaduais do PT, que se declararam “chocados” com a posição do governador, foi recebida com frieza e até mesmo provocação por parte de Riedel.

Em entrevista coletiva em Brasília, o governador mostrou total inflexibilidade em seu posicionamento. “Cheguei de viagem no sábado e ninguém do PT entrou em contato comigo. Tenho um Estado para tocar”, afirmou Riedel, deixando claro que não pretende ceder às pressões petistas. Sua declaração mais contundente veio em seguida: “Eu não mudo”. O tom desafiador continuou quando se dirigiu indiretamente aos aliados insatisfeitos: “A gente tem um projeto de governo, um plano. Pessoas não são insubstituíveis. Então, eles estão ali cumprindo uma missão do nosso plano de governo. Fiquem muito à vontade”.

A crise eclode no momento exato em que Riedel consolida sua migração para a federação União Brasil-PP, um movimento estratégico que fortalece significativamente sua base de apoio. O governador deixa para trás um PSDB em frangalhos nacionalmente, mas leva consigo a sólida estrutura partidária estadual, que inclui três deputados federais, seis estaduais, aproximadamente 70 prefeitos e cerca de 300 vereadores. Esta base continua comprometida com sua reeleição, agora potencializada pelos recursos da nova federação partidária.

O realinhamento político ganha ainda mais força com a iminente adesão do ex-governador Reinaldo Azambuja ao PL, consolidando uma frente ampla de apoio ao governo Riedel. Este fortalecimento partidário parece ter dado ao governador confiança para enfrentar a crise com o PT sem medo de desestabilização.

Em suas declarações, Riedel não poupou críticas ao cenário político nacional, defendendo um “projeto definido, claro e com horizonte longo” para tirar o Brasil do que chamou de “redemoinho”. Sua fala sobre o país “patinar” enquanto o mundo discute hegemonia geopolítica reflecte o descontentamento com a atual conjuntura.

Sobre a questão dos quatro ministros da UP no governo Lula, Riedel foi surpreendentemente crítico: “Sem dúvida nenhuma, os partidos que têm essa posição têm que repensar sua participação no governo”. Esta declaração, vinda de um recém-chegado à federação, revela a autonomia e a força política que o governador acredita ter conquistado com sua mudança partidária.

O rompimento com o PT parece agora inevitável, mas longe de ser uma preocupação para o governador. Com o fortalecimento de sua base através da UP e a chegada de Azambuja ao PL, Riedel aposta todas as suas fichas em uma nova configuração política que lhe dará mais autonomia e recursos para buscar a reeleição no ano que vem. A crise, portanto, mais do que uma ameaça, parece ser uma oportunidade para o governador realinhar suas alianças em termos mais favoráveis ao seu projeto político.

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Edição 257