Lobista Andreson de Oliveira Gonçalves, alvo da Operação Ultima Ratio em MS, tinha em seu notebook rascunhos de votos de ministros; inquérito pode ampliar escopo para 8 gabinetes
A Polícia Federal (PF) identificou novas minutas de decisões de ministros do Superior Tribunal de Justiça (STJ) no notebook do lobista Andreson de Oliveira Gonçalves, um dos alvos da Operação Ultima Ratio – que no ano passado afastou cinco desembargadores do Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul (TJMS) sob suspeita de venda de sentenças.
De acordo com informações do jornal O Estado de S. Paulo, os documentos estão vinculados aos gabinetes de mais quatro ministros do STJ e de um ex-ministro que ainda não integravam o escopo da Operação Sisamnes, deflagrada em 2023 em Mato Grosso também contra Andreson.
Com as novas descobertas, a investigação de vazamentos e possível venda de decisões no STJ pode passar a abranger oito gabinetes – quase um quarto da Corte, composta por 33 ministros.
Os gabinetes recém-incluídos na apuração são os de Marco Buzzi, Antônio Carlos Ferreira, João Otávio de Noronha e Ricardo Villas Bôas Cueva, além do ex-ministro Paulo de Tarso Sanseverino, já falecido. Eles se juntam a outros quatro já investigados: Isabel Gallotti, Moura Ribeiro, Nancy Andrighi e Og Fernandes.
A PF ressalta que não há indícios de envolvimento direto dos ministros nos vazamentos, mas investiga a origem do acesso irregular às minutas. Em nota, os gabinetes contactados negaram qualquer conhecimento ou participação em vazamentos.
Documentos falsos e “trechos coincidentes”
Além das minutas com indícios de vazamento real, os peritos encontraram no equipamento do lobista documentos falsos, incluindo uma suposta decisão de prisão atribuída ao ministro Og Fernandes que nunca existiu. A suspeita é de que Andreson usava esses materiais para captar clientes e até para extorsão.
Entre os arquivos considerados potencialmente verdadeiros, a PF destacou “trechos coincidentes” com decisões efetivamente publicadas – muitos criados dias ou semanas antes da divulgação oficial. Em um dos casos, uma minuta do ministro Marco Buzzi datada de outubro de 2018 só foi publicada dois meses depois.
Em MS, Andreson apareceu na Ultima Ratio principalmente por transferências bancárias para o advogado Felix Jayme Nunes da Cunha – que tem cerca de 200 ações no STJ – e por diálogos com o desembargador Marcos Brito, afastado pela operação.
A investigação nacional sobre vazamentos no STJ começou a partir da análise do celular do advogado Roberto Zampieri, assassinado em Cuiabá em dezembro de 2023. O material revelou diálogos com Andreson e indícios de venda de decisões por assessores de ministros.
A PF informou que entregará em breve um relatório parcial ao ministro Cristiano Zanin com “volume expressivo de novas provas” e deve pedir a ampliação formal do escopo da investigação.
O STJ afirmou que mantém sindicâncias abertas para apurar supostos vazamentos por servidores e que colabora com as investigações.