A Petrobras voltou a prometer prioridade para a retomada das obras da Unidade de Fertilizantes Nitrogenados (UFN3), em Três Lagoas (MS), mas na prática o cronograma foi mais uma vez adiado. Em reunião com o governo estadual, a estatal apresentou novos trâmites burocráticos, confirmando que a produção de ureia – crucial para reduzir a dependência brasileira de importações – só deve começar a partir de 2028, no cenário mais otimista.
A informação confirmada pela reportagem publicada pelo Correio do Estado em junho, que já indicava que a operação da planta não ocorreria antes de 2028, descartando a expectativa inicial de funcionamento a partir de 2026. O titular da Secretaria de Estado de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação (Semadesc), Jaime Verruck, detalhou a nova estratégia da Petrobras após reunião com a presidente da empresa, Magda Chambriard.
“Eles terminaram toda a avaliação e dividiram a UFN3 em sete blocos de construção para agilizar o processo. Até 30 de novembro, as empresas têm que mandar a cotação”, explicou Verruck. A ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet, já havia admitido o novo adiamento: “Quando um prazo muda, arrasta todos os outros”.
Este é mais um capítulo de uma sequência que contrasta com os anúncios de retomada feitos nos últimos anos. Em novembro de 2023, o então presidente da estatal, Jean Paul Prates, afirmou que o projeto finalmente sairia do papel. Quase dois anos depois, pouco mudou no canteiro de obras paralisado desde 2014, mesmo com mais de 80% da estrutura já concluída.
Segundo o secretário, a ideia é que cada bloco – incluindo sistemas elétricos, tubulações e áreas estruturais – seja orçado separadamente, permitindo que diferentes empresas assumam partes específicas da obra. “A ideia é iniciar a obra no primeiro semestre do ano que vem”, completou Verruck, destacando o suposto “nível de prioridade” transmitido pela atual gestão da Petrobras.
Mesmo que as obras sejam retomadas em 2026, ainda serão necessários dois anos de trabalho para conclusão, com início de produção apenas em 2028. O projeto demandará um investimento de US$ 800 milhões.
Dependência de importações
A UFN3 é peça-chave para reduzir a dependência externa do Brasil, que ainda importa cerca de 85% dos fertilizantes que consome. A reativação de algumas plantas já recuperou 15% da capacidade nacional, e a UFN3 agregaria outros 15%. “O Brasil reduziria a dependência em 30% e continuaria importando 70% da ureia necessária”, calculou Verruck.
Enquanto o governo estadual mantém acordos de incentivos fiscais e a prefeitura de Três Lagoas já prorrogou benefícios para viabilizar a obra, o gargalo permanece no nível federal. “Nossa parte está tudo certa. Agora é continuar a pressão sobre a Petrobras”, afirmou o secretário.
Iniciada em 2011, a obra foi interrompida em 2014, em meio à Operação Lava Jato e à decisão da Petrobras de sair do setor de fertilizantes. Desde então, a unidade passou por tentativas de venda frustradas – incluindo negociações com um consórcio russo –, virou ativo encalhado e só voltou ao radar da estatal após mudanças na política energética federal. O processo de venda foi finalmente encerrado em janeiro de 2023, gerando expectativa de reinício das obras que, até agora, não se concretizou.