Banco do Brasil destina R$ 13,7 bilhões para safra em MS, mas inadimplência preocupa o agronegócio

Montante ficou abaixo da expectativa inicial de até R$ 16,1 bilhões. Cenário de judicialização e dívidas preocupa especialistas e instituições financeiras

 

O Banco do Brasil destinou R$ 13,7 bilhões em crédito para os produtores rurais de Mato Grosso do Sul na safra 2025/2026. O valor, que integra os R$ 230 bilhões anunciados nacionalmente em julho, ficou abaixo da previsão inicial, que chegou a ser estimada em até R$ 16,1 bilhões pelo superintendente regional do banco, Omar de Vasconcelos.

A quantia concedida ao estado corresponde a 5,96% do total de crédito destinado ao agronegócio nacional. Desse montante, R$ 250 milhões são direcionados à agricultura familiar – valor equivalente à metade do disponibilizado na safra anterior por meio do Pronaf (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar).

De acordo com a instituição, 100% dos municípios sul-mato-grossenses são atendidos pelo crédito rural do Banco do Brasil. A carteira agro no estado ultrapassa R$ 16 bilhões em operações, incluindo R$ 650 milhões para agricultura familiar.

Preocupação com inadimplência e judicialização

A liberação de crédito ocorre em um momento de elevada preocupação com o aumento de pedidos de recuperação judicial e inadimplência no setor. No segundo trimestre de 2025, o Banco do Brasil registrou R$ 12,73 bilhões em atrasos superiores a 90 dias no pagamento de operações do agronegócio – um dos fatores que contribuíram para a queda de 60% no lucro da instituição no período.

Os produtores de Mato Grosso do Sul iniciaram o ano com dívidas de R$ 1,235 bilhão herdadas do último trimestre de 2024, um aumento de 74,6% em relação ao mesmo período do ano anterior. Entre janeiro e março de 2025, foram protocolados 25 pedidos de recuperação judicial por produtores rurais do estado – ante 14 no mesmo intervalo de 2024.

Especialistas atribuem o endividamento a fatores como condições climáticas adversas e o ciclo de alta da taxa Selic, que encareceu o crédito e pressionou as finanças dos produtores.

Especialista alerta para “calote de aventureiros”

Para o advogado Lucas Dieterich Espindola Brenner, sócio do escritório Brenner & Advogados Associados, o cenário atual é mais preocupante que o de anos anteriores. Ele afirma que, enquanto entre 2014 e 2018 a recuperação judicial era usada para reorganizar dívidas e garantir pagamento, a partir de 2023 cerca de 90% dos casos têm como objetivo dar calote.

“Desde 2023 percebemos que 90% dos produtores que entram em recuperação judicial é porque querem dar calote, não querem pagar os seus credores”, alertou. “Isso ocasiona uma desconfiança enorme no mercado e prejudica a própria classe do produtor rural, dificultando o acesso ao custeio de quem é adimplente.”

Brenner avalia que, embora intempéries possam causar prejuízos, a situação reflete, em grande parte, falhas de gestão e uso indevido de instrumentos legais. “A Lei foi criada para reerguer a pessoa com problemas financeiros e, nesse caso, eles utilizam a legislação para não pagar a dívida”, criticou.

O Banco do Brasil, por sua vez, reconhece a judicialização como um instrumento legítimo, mas defende que soluções amigáveis – como renegociação e alongamento de dívidas – são essenciais para manter a saúde financeira dos produtores e a sustentabilidade do setor.

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Edição 259