Mato Grosso do Sul vive era inédita de protagonismo feminino com Tebet e Tereza Cristina

Ministra e senadora representam novo eixo de poder no Estado, rompendo 48 anos de hegemonia masculina na política regional

 

Um novo capítulo se escreve na política de Mato Grosso do Sul. Pela primeira vez em 48 anos de história, o eixo de influência estadual está sendo conduzido por mulheres. A ministra do Planejamento, Simone Tebet (MDB), e a senadora Tereza Cristina (PP) emergem como peças-chave na formação dos palanques nacionais para 2026, desafiando uma tradição onde apenas homens ditavam as regras do jogo.

Com trajetórias que se originam no mesmo berço – o agronegócio – mas que seguiram rumos ideológicos opostos, as duas parlamentares antecipam uma mudança que especialistas previam apenas para 2030: a fissura na hegemonia masculina no comando político sul-mato-grossense.

Atual senadora e ex-ministra da Agricultura, Tereza Cristina consolida-se como a mulher mais poderosa do Centro-Oeste. Com mandato garantido até 2030, ela construiu uma rede de influência em três níveis: municipal, estadual e nacional.

Em Campo Grande, exerce influência direta na prefeitura; no governo estadual, foi madrinha política da migração do governador Eduardo Riedel do PSDB para o PP; em Brasília, é cotada como possível vice-presidente em 2026. Como presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), une o agronegócio às causas conservadoras e lidera a campanha “Invasão Zero”, contra ocupações de terras.

“Tereza Cristina é a senadora do agro e a articuladora que entende o peso de um Estado exportador. Ela fala para o PIB”, analisa o cientista político Daniel Miranda.

A estratégia de Simone Tebet

Projetada nacionalmente durante os debates presidenciais de 2022, Simone Tebet firmou-se como voz do centro político. Sua atuação como ministra do Planejamento tem sido crucial para destravar obras estratégicas, como a Rota Bioceânica, que conectará o Brasil aos mercados asiáticos.

Em recente agenda em Xangai, a ministra enviou uma mensagem direta aos sul-mato-grossenses: “Estou no maior porto do mundo, o porto de Xangai, estratégico para as nossas rotas bioceânicas. Mato Grosso do Sul, Centro-Oeste e Brasil serão imbatíveis em commodities e agronegócio”.

Apesar de especulações sobre uma candidatura ao Senado por São Paulo, seus recentes movimentos políticos indicam possibilidade de disputa por Mato Grosso do Sul.

Contrastes e convergências

“Simone é o contraponto simbólico de Tereza Cristina: nasceram do mesmo Estado e do mesmo agro, mas cresceram em direções opostas”, observa Miranda. “Uma é o agro-político; a outra, o agro-institucional.”

Para o economista Lauredi Borges Sandim, diretor do Ipems, as trajetórias refletem “duas formas de poder que amadureceram em direções distintas”. Enquanto Tereza se consolidou como liderança conservadora, Simone firmou-se como perfil conciliador.

A ironia do entrelaçamento político fica evidente no governo estadual: o marido de Simone, Eduardo Rocha (MDB), é chefe da Casa Civil do governador Riedel, principal aliado de Tereza Cristina.

Sandim aponta ainda uma inversão ideológica curiosa: “Simone, criada no MDB conservador, aproximou-se de Lula e está em franca guinada à esquerda; Tereza, que começou no PSB do esquerdista Miguel Arraes, consolidou-se à direita”.

O futuro do poder em MS

Enquanto Tereza domina o campo conservador e as prefeituras, controlando mais de 75% da base municipalista, Simone aposta no eleitorado de centro-esquerda e na aproximação com Lula.

“Tereza é articulada e disciplinada; Simone, mais independente e intelectual”, resume Sandim. “Na verve, não dá para comparar: Simone fala para as massas, tem carisma. Tereza fala para bolhas do agro, do bolsonarismo.”

Com capilaridade nacional e influência nas três esferas de poder, ambas têm potencial para reescrever a história política do Estado. Se uma delas decidir disputar o governo em 2026, o tabuleiro de poder sul-mato-grossense mudará radicalmente, consolidando de vez a era do protagonismo feminino na política regional.

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Edição 262