Relatório expõe como Beira-Mar burlou segurança de presídio em MS para agir no crime

Documento da Senappen mostra que traficante articulava atividades ilegais e custeava advogados de aliados durante passagem por Campo Grande, burlando o rigoroso sistema de segurança

 

Durante sua segunda passagem pela Penitenciária Federal de Campo Grande, entre 2019 e 2023, o traficante Fernandinho Beira-Mar manteve ativa a articulação de “negócios extramuros” do crime, além de custear despesas advocatícias para aliados do Comando Vermelho. As revelações constam em seu histórico prisional, elaborado pela Secretaria Nacional de Políticas Penais (Senappen), que detalha como o líder faccional burlou sistemas de controle mesmo sob o rigor do Regime Disciplinar Diferenciado (RDD).

O documento, obtido pelo jornal O Globo, expõe a persistente atuação criminosa de Beira-Mar, que completa 20 anos encarcerado em 2024. Um relatório de 2022 é específico sobre o período em Mato Grosso do Sul: “Luiz Fernando continua custeando despesas advocatícias para outros presos da Penitenciária Federal de Campo Grande, especialmente seus aliados da facção Comando Vermelho” e articulava “negócios extramuros, com a ajuda de visitantes, advogados e outros presos”.

Sistema federal burlado

Beira-Mar, que acumula mais de 300 anos de pena, teve duas passagens por Mato Grosso do Sul – a primeira entre 2007 e 2010 e a segunda de 2019 até janeiro de 2023. Mesmo sob isolamento severo, ele demonstrou capacidade de adaptação para manter influência. O histórico ainda registra que o detento “permanece se insurgindo contra o tratamento penal que lhe é dispensado e acusa alguns agentes de perseguição”.

A trajetória de burla ao sistema é longa. Entre 2014 e 2016, em Rondônia, ele já utilizava “parentes, inclusive advogados” para dar continuidade a atividades criminosas. A descoberta de bilhetes picotados em marmitas deflagrou a Operação Epístola (2017), que resultou em sua transferência para Mossoró (RN), onde, segundo inteligência, estreitou laços com o PCC.

Desgaste e questionamentos

Uma atualização de 2023 apontou que Beira-Mar ainda exercia “liderança negativa” entre os presos, mas já apresentava “desgaste psicológico” pelo longo período de encarceramento. Em outubro daquele ano, passou por avaliação psiquiátrica em processo que alegava insanidade.

Procurada, a Senappen afirmou que “não há qualquer comunicação que não seja monitorada dentro de uma penitenciária federal” e que as unidades foram criadas para “neutralizar a comunicação e a influência de lideranças criminosas”. No entanto, o caso de Beira-Mar em Campo Grande evidencia os desafios contínuos do sistema, mesmo com protocolos de segurança máxima.

Compartilhe nas Redes Sociais

Banca Digital

Edição 262