A filha de Gerson Palermo, um dos maiores traficantes do Brasil e foragido desde 2020, foi sequestrada na noite de sexta-feira e libertada na madrugada de sábado em Campo Grande. Apesar da prisão de um suspeito e do relato da vítima que atribuiu a “culpa” do cárcere privado ao próprio pai, as autoridades afirmam que ainda não têm certeza sobre as motivações e o mandante do crime.
A jovem de 25 anos contou à polícia que Palermo teria ligado para ela na sexta-feira afirmando que mandaria alguém entregar uma quantia em dinheiro para ajudar nos custos do tratamento de saúde da avó, que está acamada. Quando essa pessoa chegou, ela entrou no veículo e foi sequestrada. Segundo seu depoimento, os sequestradores cobravam a devolução de um dinheiro ao pai, valor que ela alega não possuir.
A defesa de Palermo apresentou uma versão diferente dos fatos. De acordo com o advogado do traficante, Amilton Ferreira, o pai teria deixado com a filha cerca de US$ 10 mil (aproximadamente R$ 53 mil), provenientes da venda de gado, para que ela guardasse o valor antes do sequestro. O advogado nega qualquer envolvimento de Palermo com o crime e afirma que “nunca um pai e uma mãe mandam sequestrar um filho, sempre acontece ao contrário”.
Investigação em andamento
O delegado Roberto Guimarães, da Delegacia Especializada de Repressão a Assaltos a Banco e Sequestros (Garras), mantém cautela sobre o caso. “A vítima apresentou sua versão, de que teria sido sequestrada por uma questão de dívida, de dinheiro, de um foragido da Justiça, o senhor Gerson Palermo. Se o senhor Gerson e a esposa dele têm envolvimento ou não, tudo isso ainda será levantado”, afirmou.

Um homem de 34 anos, identificado como Reinaldo Silva Farias – suposto proprietário do imóvel onde a jovem foi mantida refém -, foi preso em flagrante e teve a prisão convertida em preventiva durante audiência de custódia. A polícia investiga a participação de pelo menos mais duas pessoas no crime.
Durante o período em que ficou em cativeiro no Bairro Moreninhas, os sequestradores enviaram fotos e mensagens de áudio da vítima para o marido dela, que acionou o Garras. Em seu depoimento, a jovem relatou ter sofrido violência física e psicológica, incluindo ameaças de mutilação, coronhadas, chutes e intimidações de morte. O companheiro da vítima também foi ameaçado caso não entregasse o dinheiro do resgate, que não chegou a ser pago.
Quem é Gerson Palermo
Com quase 70 anos, Gerson Palermo tem passagens pela polícia desde o início da década de 1990, principalmente por tráfico de drogas. Conhecido como chefão do Primeiro Comando da Capital (PCC) em Mato Grosso do Sul, ganhou notoriedade nacional em agosto de 2000 ao liderar o sequestro de um Boeing da Vasp com 67 pessoas a bordo. O avião foi desviado para Porecatu (PR), onde os criminosos levaram cerca de R$ 5,5 milhões que estavam no compartimento de carga.
Sua última prisão ocorreu em 2017 na Operação All In, que desmantelou uma organização criminosa de tráfico internacional de drogas e lavagem de dinheiro. Em agosto de 2019, foi condenado a 59 anos e nove meses de prisão, mas oito meses depois conseguiu converter o regime para prisão domiciliar através de habeas corpus concedido pelo desembargador Divoncir Schereiner Maran. Desde então, Palermo permanece foragido da Justiça.











