Economista aponta aumento da margem de lucro das distribuidoras em meio à concentração do mercado; etanol segue como alternativa vantajosa no estado
A redução de 4,9% no preço da gasolina A anunciada pela Petrobras em outubro falhou em se materializar de forma consistente para o consumidor de Mato Grosso do Sul. Após uma queda irrisória, o combustível já voltou a subir nos postos do estado, mantendo os preços praticamente inalterados, conforme o último levantamento semanal da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).
O litro da gasolina, que custava em média R$ 5,93 no estado antes do anúncio da estatal, caiu para R$ 5,90 na semana seguinte e já retornou aos R$ 5,93. Na capital, o movimento foi idêntico: de R$ 5,76 para R$ 5,71 e de volta aos R$ 5,76. O cenário contrasta com o de outras capitais, como Brasília, onde a queda foi de R$ 0,36 por litro.

O diretor-executivo do Sindicato do Comércio Varejista de Combustíveis de MS (Sinpetro-MS), Edson Lazarotto, atribui a limitação do repasse às distribuidoras. “Os postos não resistem a repassar os preços, quem não repassa na totalidade são as distribuidoras. Existe uma cadeia no segmento até chegar aos postos”, explicou.
A explicação encontra respaldo na análise do economista Eduardo Matos, que aponta um aumento estrutural na margem de lucro das distribuidoras. “Fazendo um recorte de 2020 para cá, nota-se que, ainda assim, a margem das distribuidoras aumentou. Isso se deve à concentração de mercado”, afirmou.
Matos detalha que a desestatização da BR Distribuidora (atual Libra) reduziu a concorrência no setor. “Tínhamos um número maior de players, e com a desestatização ficou concentrado esse mercado. Isso possibilitou que se apertasse o preço para o consumidor e aumentasse a margem para as distribuidoras”.
Para o consumidor, a diferença parece pequena – apenas R$ 1,50 no abastecimento completo de um tanque de 50 litros –, mas simbolicamente representa a frustração com a expectativa de uma redução mais substantiva. A Petrobras havia anunciado corte de R$ 0,14 por litro na gasolina A, mas a queda esperada de até R$ 0,10 nas bombas não se concretizou em MS.
Enquanto isso, em outras regiões do país o repasse foi mais efetivo. Em Belo Horizonte, o preço caiu de R$ 5,94 para R$ 5,86; em Goiânia, de R$ 6,54 para R$ 6,46; e em São Paulo, de R$ 6,16 para R$ 6,02.
Os dados da ANP mostram que o etanol também oscilou nas últimas semanas em MS, mas se mantém como alternativa economicamente viável. O preço do biocombustível passou de R$ 3,93 para R$ 3,87 e depois para R$ 3,91.
A relação preço entre etanol e gasolina no estado ficou em 0,65, abaixo do patamar de 0,70 que indica vantagem na substituição. Na capital, o índice foi de 0,66, também favorável ao etanol.
“É um dos preços mais baixos na história do Estado”, comentou o economista Eduardo Matos, atribuindo a competitividade aos “investimentos que a cadeia recebeu, é claro, a cana-de-açúcar que historicamente é o principal, mas também abertura de usinas de etanol de milho”.
A disparidade entre o anunciado pela Petrobras e o praticado nos postos de MS evidencia que, além da política de preços da estatal, a estrutura de custos e a concentração do mercado de distribuição seguem como fatores determinantes para o valor final pago pelo consumidor sul-mato-grossense.










