Professora é enforcada por fio abandonado enquanto pedalava; caso é o terceiro registrado no município, onde moradores denunciam descaso das empresas e falta de fiscalização
O trajeto rotineiro de trabalho quase terminou em tragédia para a professora Tacielly Barbosa Rocha. Na manhã do último dia 17 de outubro, enquanto se dirigia de bicicleta elétrica pela Rua Eurídice Chagas Cruz, ela foi surpreendida por um fio de internet solto que se enroscou em seu pescoço, enforcando-a e causando cortes e escoriações. Este é o terceiro registro de acidente envolvendo cabos abandonados nas vias públicas do município.
O fio, que estava abandonado e pendurado sobre a via em frente a uma conveniência próxima ao CEI (Centro de Ensino Infantil) Neife de Souza Lima – onde Tacielly trabalha –, estava enroscado em uma árvore e se prendeu ao pescoço da docente. A professora escapou de consequências mais graves porque seguia em baixa velocidade.

“Foi um momento de desespero. Senti o fio se apertando no meu pescoço e puxando-me para trás. Se estivesse em maior velocidade, poderia ter sido muito pior”, relata Tacielly, que ficou com uma cicatriz visível no pescoço. Decidida a denunciar o descaso, ela cobra providências das autoridades e das empresas de internet. “Isso é uma negligência que coloca vidas em risco todos os dias”.
Terceiro caso em pouco mais de dois meses
O problema não é isolado. Apenas duas semanas antes, no dia 31 de outubro, o estudante universitário João Victor Araújo de Souza, de 18 anos, quase morreu ao ter o pescoço cortado por fios soltos na Avenida Rosário Congro. O jovem seguia de moto para a faculdade quando o cabo se enrolou em seu pescoço e o derrubou no asfalto, deixando ferimentos profundos.
Em 18 de agosto, outro acidente semelhante havia ocorrido: uma motociclista fraturou o ombro e a costela após ser atingida por um fio na Avenida João Tomés. Moradores relatam ainda outros casos não oficialmente registrados de vítimas que tiveram mãos quebradas e fraturas graves provocadas pelos cabos espalhados pelas ruas.
Moradores da cidade afirmam que o problema é antigo e que a falta de fiscalização tem colocado vidas em risco. “Há cabos pendurados por toda a cidade, e ninguém faz nada. Vivemos com medo de sair de moto ou bicicleta”, desabafa um comerciante que preferiu não se identificar.
Empresas notificadas, mas problema persiste
Segundo a Neoenergia Elektro, concessionária responsável pelos postes, o cabo envolvido nos acidentes não pertence à rede elétrica. A empresa informou que, desde setembro de 2024, realiza inspeções em Três Lagoas e já notificou 23 provedores de internet por uso irregular da estrutura.
A Elektro afirma ter identificado irregularidades em 40% dos 67 mil pontos vistoriados na cidade – o que representa aproximadamente 26.800 locais com problemas. A concessionária diz colaborar com o poder público para a retirada dos cabos sem identificação, mas admite que parte das ações foi interrompida por questões judiciais e só foi retomada em outubro deste ano.
Enquanto as empresas e o poder público discutem responsabilidades, a população de Três Lagoas segue exposta ao perigo. Os cabos abandonados continuam pendurados como armas invisíveis, aguardando a próxima vítima em um cenário que já se repete há meses sem uma solução definitiva à vista.











