Projeto aprovado renova esperanças de mães de autistas, mas desafios continuam

Aprovado por unanimidade, projeto de Tonhão dá utilidade pública a associação de autistas e abre caminho para recursos

Thais Dias

Em Três Lagoas, a trajetória de luta das mães de autistas ganha novos capítulos, a Câmara Municipal de Três Lagoas aprovou por unanimidade nesta terça-feira, 1º, o projeto de lei que concede o título de utilidade pública à Associação de Pais e Amigos do Autista. A proposta foi apresentada pelo presidente do Legislativo, vereador Antônio Luiz Teixeira Empke Júnior (Tonhão).

Em discurso emocionado, Tonhão destacou a importância da medida:

“Olha, é um projeto bastante importante. Eu já tive essa sensibilidade no ano de 2019, quando apresentei o projeto que se transformou na lei que tornou de utilidade pública a FADA, que era a outra nomenclatura da associação. Hoje eles se modernizaram, me procuraram por eu ter sido o autor inicial, e nós fizemos todo o levantamento dos documentos”.

O vereador explicou os impactos práticos da nova legislação: “Várias empresas e entidades só recebem recursos se tiverem utilidade pública. Então, tendo utilidade pública, a Associação pode receber recursos de emenda e outros investimentos, trabalhando de forma mais organizada”.

Tonhão também anunciou importantes eventos sobre o tema:

04/04: Ciclo de palestras em parceria com a Academia de Medicina

16/04: Audiência Pública “Autismo é Diversidade e Inclusão é Compromisso” às 18h30 na Câmara

Programação das Palestras – 04/04:

“TEA: Genômica Funcional e Perspectivas” com Dr. Almir de Souza Martins

“Prevenção e Melhora do TEA” com Dr. Durval Palhares

“Avaliação Multiprofissional e Diagnóstico” com Dra. Gislayne Budib Poleto

Local: Câmara Municipal (R. Sunao Miura, 71)
Horário: 19h
Entrada gratuita com certificado

O parlamentar reforçou o compromisso com a causa: “Nós temos total interesse em resolver essa demanda. Já sinalizamos que a Câmara pode ceder o espaço do duodécimo para construção do centro multidisciplinar prometido pelo prefeito Cassiano Maia”.

Tonhão finalizou convidando a população: “É importante as mães participarem desses eventos. Vai ser um convite amplo para que todo mundo possa participar”.

Mas, os desafios persistem

Em Três Lagoas, a história de resistência e amor das mães de autistas completa doze anos de mobilização. Tudo começou quando um grupo de mulheres, cansadas da falta de atendimento adequado para seus filhos, decidiu fundar a Associação de Mães Autistas. Hoje, presidida por Aldenice Alves de Lima Pereira, mais conhecida como Neide Lima, mãe de Henrique, um jovem autista não verbal de 21 anos.

Neide conta que a associação surgiu da necessidade de garantir atendimento adequado aos filhos. “Fizemos caminhadas, campanhas e mobilizações para chamar a atenção do poder público”, relembra. Mas, mesmo após mais de uma década de existência, os obstáculos continuam enormes.

Um dos principais problemas é a dificuldade em obter o diagnóstico. Muitas mães peregrinam por meses (ou anos) até conseguir uma avaliação médica. Quando conseguem, enfrentam outro entrave: o SUS não aceita laudos de outros profissionais, obrigando-as a reiniciar todo o processo.

“Tem mãe que faz vaquinha para levar o filho ao médico, e quando chega lá, o laudo é recusado. A criança fica na fila de espera por terapia, que quando vem, é esporádica – uma vez por semana, o que não resolve”, desabafa Neide.

Outro grande desafio é a ausência de suporte psicológico para as mães. “O SUS não oferece acompanhamento para a família. Muitas de nós estamos exaustas, sem nenhum tipo de ajuda”, diz Neide. A falta de espaços para acolher crianças autistas também impede que as mães retornem ao mercado de trabalho. “Se a mãe não tem com quem deixar o filho, como ela vai trabalhar? Não existe estrutura em Três Lagoas para isso”, lamenta.

Nas clínicas particulares, as terapias são caríssimas, e a maioria das famílias não pode pagar. “Ficamos reféns da boa vontade do poder público, que não consegue atender a demanda”, explica Neide.

A pressão é tão grande que algumas mães chegam a pensar em suicídio. “Elas não aguentam mais a solidão, o cansaço, a falta de perspectiva”, relata Neide. “Precisamos de políticas públicas eficientes, terapias regulares, inclusão escolar de verdade e apoio psicológico para as famílias.”

 

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Edição 254